Crédito da foto: Marcelo Andrade.| Foto:

Os 15 primeiros dias da gestão Jair Bolsonaro nos ensinam que ainda vamos precisar de muitas quinzenas para decifrar o governo Bolsonaro. Não é torcida contra, nem crise de ansiedade. Muito já se falou sobre os diferentes núcleos de poder da atual administração (econômico, familiar, militar, evangélico, penalista, ruralista, armamentista, olavista…), mas pouco se sabe sobre como será a harmonia entre eles.

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Quando as crises chegarem – e elas já estão chegando – quem vai apitar mais alto? Com o perdão do trocadilho (1): quem será o capitão do governo do capitão?

No momento, a faixa vai passando de braço em braço. Mais ou menos como no rodízio inventado por Tite na seleção durante a Copa da Rússia. (A comparação soa tosca, mas é válida: deu tudo certo quando os adversários eram uma moleza, porém quando o time foi pressionado e saiu atrás no placar pela primeira vez na competição, contra a Bélgica, acabou eliminado.)

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Com o perdão do trocadilho (2): Jair precisa logo arrumar um messias. Alguém que assuma uma liderança natural e dome os elefantes da sala de cristais do Palácio do Planalto.

E não parece que ele será essa figura. Há inúmeras demonstrações de que o presidente se sente melhor na figura do treinador, no sentido de quem monta a escalação, do que na de capitão, no sentido de liderança técnica respeitada pelo conhecimento.

Aí valem algumas ressalvas. O fato de Bolsonaro não entrar em campo não é necessariamente um problema. Dilma Rousseff encasquetou que seria ministra da Fazenda de fato do seu governo, fazendo de Guido Mantega seu fantoche, e não conseguiu nem ser presidente, nem ministra. Lula, pelo contrário, era líder, delegava e não dá para dizer que seu governo não andava (no bom e no mau sentido).

É mais funcional que o presidente lidere do que execute. Em um modelo tão centralizado de poder quanto o presidencialismo à brasileira, com suas despóticas possibilidades de decretos, medidas provisórias e afins, ele precisa de alguém que domine as alavancas de comando.

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A sucessão de trombadas e recuos deste começo de governo é prova disso. Insegurança gera insegurança.

Todas as áreas da gestão, inclusive as mais estreladas, como as de Paulo Guedes (economia) e Sergio Moro (segurança pública), sofrem com o desconforto da possiblidade de terem de tomar ou desfazer alguma decisão. Um exercício para medir a temperatura dessa febre é a quantidade de notícias sobre o governo com as palavras “pode”, “deve”, “estuda”; ao contrário de “faz”, “realiza”, “determina”.

No momento, pela escalação de Bolsonaro, o mais próximo de um capitão do governo é Onyx Lorenzoni. Não sem razão, o ministro da Casa Civil tem apanhado por todos os lados, como mostra reportagem de Olavo Soares.

Mais do que palpites de militares, filhos ou políticos, a necessidade mais urgente de Bolsonaro é de um headhunter.

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