Muito se fala que a corrida presidencial de 2018 será igual à de 1989, aquela que teve 22 candidatos e um caçador de marajás como vencedor. Pelo andar da carruagem e o palco se fechando para outsiders (vide a desistência de Luciano Huck), contudo, parecemos nos encaminhar mais para uma versão 2006 das eleições. Aquela em que o petista Lula foi para o segundo turno com o tucano Geraldo Alckmin.
Há 11 anos, o que assombrava Lula era o Mensalão. Agora, é a Lava Jato e a maçaroca político-jurídica que envolve a sua candidatura. O calcanhar-de-aquiles de Alckmin era o próprio partido, que já vivia o fratricídio entre suas alas paulista e mineira, e a falta de carisma – não à toa, ganhou durante o pleito o singelo apelido de “Picolé de Chuchu”.
Alckmin está hoje com um pé e meio em sua segunda aventura presidencial. O PSDB continua daquele jeito. O carisma também. Mas desta vez ele tem pelo menos quatro cartas na manga que não tinha em 2006.
1 – São Paulo virou exemplo de segurança pública
Em 15 anos, o estado de São Paulo deu salto positivo gigantesco em seus indicadores de segurança pública e se tornou um dos menos violentos do Brasil. De acordo com o 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado neste mês, foi a unidade da federação com o menor índice de mortes violentas em 2016, com 7,2 assassinatos para cada 100 mil habitantes.
Num quadro eleitoral em que o capitão do Exército Jair Bolsonaro (PSC-RJ) desponta como segundo colocado nas pesquisas com um discurso calcado fortemente na “bala”, Alckmin tem números para mostrar. Dos 15 anos da amostra, ele foi governador ao longo de 10.
2 – Conexão com o eleitor de centro
No Brasil, nos Estados Unidos ou em qualquer democracia ocidental, o candidato que tem um espectro político claro, mas que consegue fisgar eleitores de centro, ganha. Lula só chegou ao poder em 2002 porque bancou o papel de “Lulinha Paz e Amor”, temperado pela Carta ao Povo Brasileiro. Em 2018, se a Justiça permitir, ele voltará a campo muito mais à esquerda.
Com Bolsonaro escalado na direita, o centro permanece em disputa aberta. Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) não são exatamente centristas. Alckmin e o PSDB já incorporam o discurso alternativo, do “Estado Musculoso”, nem grande nem pequeno. E incomodou a ala mais à direita do PSDB: tanto que o time do MBL começou a debandada.
3 – Teoria do Mal Menor
Alckmin não passou ileso pela Lava Jato e isso também vai pesar contra ele em uma eleição marcada pelo cansaço extremo do eleitor em relação à corrupção. Mas, por enquanto, ele não se aproxima aos enroscos de Lula, réu em sete ações. O petista assusta por esse conjunto da obra e Bolsonaro pelo discurso extremado.
Nesse quesito, ser insosso pode sim ser uma arma. Enquanto mais o volume da pré-campanha permanecer alto, mais risco de o eleitor chegar cansado de gritaria às vésperas da eleição. Não será surpresa se o chuchu virar o sabor da moda e abocanhar os votos de quem não quer correr riscos.
4 – Eleição é só em 2018, não agora
Você não vê vídeos de Alckmin “mitando” ou “lacrando” nas redes sociais. O perfil sem graça do governador não faz a militância tucana (ou qualquer outra) vestir a camisa e sair às ruas para defendê-lo freneticamente. Mas foi exatamente esse sangue-frio que deu corda para o prefeito de São Paulo, João Doria, se enforcar na vaidade de se tornar presidenciável e permitiu que Alckmin esperasse a hora certa para ascender consensualmente à presidência do PSDB.
Alckmin, segundo a última pesquisa Ibope, de 29 de outubro, tem apenas 5% dos votos. É um desempenho muito fraco para quem já disputou a Presidência e tem recall como governador. Mas, a 15 dias das eleições de 2014, Aécio Neves era carta fora do baralho, com 12%. Dia após dia, captou os votos de Marina Silva, foi ao segundo turno e por muito pouco não foi eleito presidente. Aécio tampouco é um maestro do carisma – e, como a Lava Jato vem mostrando, nem da ética.
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