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Alckmin x Bolsonaro: o medo é capaz de decidir a eleição?
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Geraldo Alckmin (PSDB) dedica um grande terreno de seu latifúndio de propaganda na televisão para desconstruir o principal adversário à direita da disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PSL). O tucano já atacou a ideia de que o rival quer resolver tudo na bala, que agride as mulheres e que eleger um militar pode transformar o Brasil numa Venezuela.

Em resumo: Alckmin faz de tudo para alertar o eleitor, por diversos ângulos, que ele precisa ter medo de Bolsonaro.

Daí vem a pergunta: campanhas pautadas pelo medo ganham a eleição? Depende do estado de espírito do eleitorado. No Brasil de 2018, dados sobre o humor (ou melhor, o mau humor) do eleitor apontam que sim, é possível.

Levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) em junho ouviu 1,2 mil eleitores sobre seus sentimentos em relação às eleições de outubro. 83% disseram ter emoções negativas e 40% positivas.

Dentre os que compõem o grupo da negatividade, 33% descreveram seu sentimento como “preocupação”. Outros 27% falaram em “indignação ou raiva”, 12% em “tristeza” e 11% em “medo”. Todas essas percepções são vizinhas, mas “medo”, “tristeza” e “preocupação” estão mais coladas uma à outra. Em resumo, o eleitor está com medo do resultado e se ele canalizar esse medo para um candidato, a coisa pode ficar complicada.

Em campanhas políticas, no entanto, para quase todo ataque há a possibilidade de um contra-ataque que pode ser avassalador. No caso específico da disputa Alckmin x Bolsonaro, há um antídoto favorável ao candidato do PSL: a grande fatia dos que falaram “indignação ou raiva”. Esse grupo, proporcionalmente, corresponde a uma faixa similar à dos eleitores de Bolsonaro – segundo pesquisa XP/Ipespe realizada entre os dias 27 e 29 de agosto, ele tem 23% das intenções de voto e lidera com folga o cenário sem Lula, que está barrado pela Justiça Eleitoral.

E quem escolhe um candidato por indignação reage aos ataques com indignação.

Na prática, a ofensiva de Alckmin deve ter mais efeito sobre indecisos ou eleitores “flutuantes” que cogitariam votar em Bolsonaro. O que também não quer dizer que esses leitores vão cair no colo do tucano – eles podem, por exemplo, migrar para outros nomes do mesmo espectro político, como o liberal João Amoêdo (Novo).

Atacar, contudo, está longe de ser uma má jogada (do ponto de vista de estratégia eleitoral e não da qualidade do debate, obviamente). Campanhas muito menos pautadas pelo mau humor sofreram influências decisivas do medo. E, historicamente, jogadas sutis entre adversários não tão evidentes tiveram resultados expressivos.

Um artigo do cientista político Felipe Borba traz a mensuração dos ataques feitos em todas as campanhas presidenciais brasileiras. Há casos pouco lembrados pela historiografia, como a ofensiva de Fernando Collor contra Guilherme Afif Domingos durante o primeiro turno de 1989. Afif apanhou por ter votado, durante a Constituinte, contra a reforma agrária, o voto de jovens a partir dos 16 anos e a unidade sindical (pautas mais à direita do eleitorado).

Depois, como se sabe, Collor recalibrou os canhões e incitou o medo contra o radicalismo do PT (e suas pautas esquerdistas). Naquele ano, segundo o estudo, apenas 7% das propagandas eleitorais do primeiro turno foram negativas; porcentagem que subiu para 38% no segundo turno entre Collor e Lula. Collor bateu mais – e bateu no lugar certo, do ponto de vista dos medos da população – e venceu.

Pelo levantamento, a disputa de 1º turno mais barra pesada da história ocorreu em 1998 – 20% das propagandas de todos os candidatos foram negativas. Lula bateu em Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Ciro Gomes, então no PPS, bateu nos dois. Um eleitor bem humorado pelo sucesso do Plano Real não gostou do tom da campanha e decidiu reeleger FHC no primeiro turno.

Em 2002, os petistas captaram a ideia e montaram a estratégia da “esperança contra o medo”. Mas não foi só isso o que aconteceu naquela campanha. Ciro foi desconstruído por José Serra (PSDB) e o tucano foi para o segundo turno.

Em 2014, com um eleitor bem mais irritadiço, o PT desossou uma ascendente Marina Silva, então no PSB. Resultado: Aécio Neves (PSDB) foi para o segundo turno contra Dilma Rousseff.

Dizer ao certo no que darão os ataques de Alckmin a Bolsonaro é arriscado. Um fato pode ser dado como certo: eles não serão os únicos bombardeios. Lula, por exemplo, passou incólume até o momento.

O motivo é óbvio: todos estão de olho nos seus votos. Quando Fernando Haddad (PT) assumir seu posto, a guerra generalizada começa para valer. Não será bonita.

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