O brasileiro comum (e o paranaense, em especial) pode até ter inúmeros defeitos, mas seguramente o ufanismo não está entre eles. No país do samba, carnaval e futebol, a onda sempre foi rir de si mesmo. Vale para as horas boas, vale para os momentos de dificuldade.
Nessa linha, nada mais hilário do que as piadas sobre o apagão da semana passada. A graça sobre a desgraça jorrou pela internet em tempo real. No Twitter, várias explicações sobre o blecaute – a mais genial dizia que 18 estados ficaram no escuro só porque o estagiário que fazia hora extra em Itaipu ouviu do chefe: “quando sair, não esqueça de apagar a luz”.
Nem Madonna escapou. Ela teria se livrado da queda de energia no Rio de Janeiro porque tem Jesus. Jesus Luz, o modelo brasileiro de 22 anos com quem a cantora namora.
Um pouco mais para trás, ninguém perdeu a chance de brincar com a escolha do Rio de Janeiro como a sede das Olimpíadas de 2016. Afinal de contas, o mesmo sujeito que chorou com Lula pela conquista sabe que a violência na cidade é uma dura realidade. O secretário de segurança fluminense, José Mariano Beltrame, ousou dizer o contrário em uma audiência na Câmara dos Deputados e teve de se retratar rapidinho.
Em outras palavras, a arte de rir de si mesmo é um patrimônio cultural brasileiro que não tem a ver com falta de nacionalismo. Faz parte da malemolência daqueles que já viram o “país do futuro” perder oportunidades após oportunidades de dar certo. O brasileiro médio – essa figura estranha – pode até tolerar e ser o responsável pela bandalheira política nacional, mas não é tolo.
Por isso causou estranheza a maneira como o governo tratou o blecaute de terça-feira passada. A segunda maior usina do planeta – a mesma que segundo a lenda pode ser vista até da Lua – parou de funcionar totalmente pela primeira vez na história e a culpa foi da mãe natureza. Até aí, tudo bem, digamos que um raio caiu realmente três vezes no mesmo lugar.
Estranho mesmo foi ver o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, dizer que o sistema elétrico brasileiro é um dos melhores e mais seguros do mundo. O modelo estaria inclusive sendo copiado pelos Estados Unidos. O mesmo que perde 40% da capacidade por causa do mau tempo e não impede o alastramento de um problema que começou no Sul para o Norte do país.
O pior é que o recurso está virando regra. Lula lançou o bordão “nunca antes na história deste país” e todo mundo foi atrás. No Paraná, “maravilhoso” e “espetacular” são os termos preferidos de Roberto Requião para definir o próprio governo.
Muito pior é o argumento de que aqueles que não engolem o “país das maravilhas” estão contra os interesses da nação. É fato que a vida dos paranaenses e dos brasileiros melhorou na última década, muito em função de políticas governamentais de distribuição de renda aplicadas pelas atuais administrações estadual e federal. Mas isso não é carta branca para todo tipo de balela.
Além disso, abusar do discurso nacionalista é um instrumento notoriamente ultrapassado – é só ver no que deu o nazismo alemão e o comunismo soviético. Se hoje o Brasil está mais para o país do futuro do que era ontem é justamente porque já pagou por esse pato durante a ditadura militar.
O discurso do “Ame-o ou deixe-o” já não cola há muito tempo. E para os que quiserem ressuscitá-lo, é bom lembrar que a Venezuela fica logo ali.
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