No dia 16 de junho de 2018, o então pré-candidato a presidente Geraldo Alckmin foi recebido por militantes do PSDB no aeroporto de Brasília. Meia dúzia de apoiadores gritava um nada original: “Brasil, urgente, Geraldo presidente!”
Em outubro, os 4,76% dos votos válidos conquistados por Alckmin provaram que aquela turma era o retrato fiel do geraldismo raiz. O restante do eleitorado tucano voou para Jair Bolsonaro, que ficou a menos de um Alckmin de vencer já no primeiro turno.
Bolsonaro, na mesma época, mostrava seu poder de fogo com recepções calorosas por onde passava. E foi a imagem triunfal do antipolítico carregado nas costas em meio a multidões que forjou o conceito do “mito”.
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No dia 6 de setembro, Bolsonaro foi esfaqueado justamente em um desses eventos. Tinha 22% das intenções de voto nos cenários sem Lula, segundo Ibope com entrevistas realizadas três dias antes.
O atentado acabou com a epopeia das aparições públicas. Elas nem seriam mais necessárias. A campanha decolou e Bolsonaro subiu mais que o dobro das intenções de voto daquele Ibope pré-facada.
O crescimento foi embalado pela adesão de eleitores liberais na economia, inicialmente tentados a votar em Alckmin, João Amoêdo (Novo) ou Henrique Meirelles (MDB).
Seguiu-se o apoio maciço de conservadores flutuantes, liderados pelo eleitorado evangélico. Somaram-se os lavajatistas, cansados da balbúrdia da corrupção, outros setores da direita, de centro e até alguns punhados de gente de esquerda em busca de um outsider para guiar o país contra a crise.
Criou-se uma estrutura difusa à primeira vista, mas claramente unida por um ideal comum: o antipetismo. Nas palavras de Paulo Guedes, o Projeto Bolsonaro nada mais é do que o fruto da união entre ordem (os conservadores) e progresso (os liberais na economia). Acrescente a isso um retrogosto marcante de desalento com a política tradicional e voilá.
Mas, dessa turma toda, quem é bolsonarista acima de outros valores? Quem defenderia o presidente se o PT deixasse de existir neste exato momento? Quem prestaria socorro sem contestação diante das turbulências do caso Queiroz, das declarações desencontradas sobre o papel do Estado na economia, do conturbado papel dos filhos no governo, da dubiedade em relação ao conflito entre Olavo de Carvalho e o generalato, dos sucessivos imbróglios com STF e Congresso?
Estaremos diante desse bolsonarismo raiz, ou algo que que possa ser definido como bolsonarismo real, nos atos do dia 26. Saberemos nessa data o que ele verdadeiramente pensa, as ideias de que se alimenta e, o mais importante, para onde quer ir. Talvez ele seja proporcional ao grupo pré-facada (aqueles 22% do eleitorado), talvez seja muito maior.
A quantidade importa pouco, diante da expectativa da mensagem que está por vir. Mais do que contar quanta gente foi pra rua, se haverá mais adesão que os protestos pela educação, o que contará é a mensagem defendida. Ela será do contra (antipolítica, antissistema, anti-institucional, antidemocrática), ou a favor (da reforma da Previdência, da reestruturação do ministério, etc.)?
A resposta será a chave para entender o que teremos pela frente. Não só para decifrarmos o que é de fato o bolsonarismo. Mas para sabermos realmente veio para ficar – e para onde tem condições de levar o país.
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