Eles estiveram tanto tempo juntos que a separação foi traumática. Nas sabatinas realizadas ontem e anteontem pela Gazeta do Povo, Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT) mostraram que as negociações que consolidaram ambas as candidaturas ainda estão entaladas nas gargantas dos dois.
Beto soltou a voz para criticar o vaivém do adversário, que negociava com oposição e governo, Serra e Lula, ao mesmo tempo. Osmar lembrou que o opositor havia prometido cumprir integralmente o mandato como prefeito de Curitiba e desistiu para concorrer a governador.
É aceitável que o conceito de ética seja algo particular, mas Beto e Osmar são capazes de dar nó na cabeça de qualquer filósofo. Um disse que falta ética ao outro, basicamente pelo mesmo motivo: a falta de palavra.
Como ninguém sabe ao certo o que se passa na cozinha da formação de alianças, ficam as duas versões. Mas há outros aspectos das duas entrevistas que mostram algumas particularidades da ética de cada um.
Veja e tire suas próprias conclusões:
Beto Richa
Nos últimos anos, houve duas denúncias contra o senhor, o caso que ficou conhecido como “Sogra Fantasma” (a sogra do chefe de gabinete de Beto na Assembleia, Ezequias Moreira, foi funcionária fantasma da Casa por 11 anos) e o do “Comitê Lealdade” (suposta compra de apoio de dissidentes do PRTB nas eleições municipais de 2008). Depois houve outro, não diretamente ligado ao senhor, que é o dos diários secretos da Assembleia Legislativa. Como o senhor vê sua ligação com esses dois casos? Como governador, como pretende trabalhar contra esse tipo de situação?
Em relação ao problema da sogra, já foi esclarecido. Foi um problema de um assessor meu com a direção da Assembleia Legislativa. Eu não tive participação alguma nisso. Ele reconheceu o seu erro e pagou a sua conta com a sociedade (devolveu cerca de R$ 500 mil à Assembleia). Acho, nesse aspecto, nobre da parte de dele. Eu cito até um ditado bíblico: “perdoo o pecador, mas não perdoo o pecado”. Tanto é que ele foi na época desligado da nossa equipe, pagou sua conta com a sociedade. Que bom seria se os mensaleiros devolvessem os milhões e milhões de reais que foram desviados dos cofres públicos.
Mas o caso da “Sogra Fantasma” mudou de alguma forma a maneira como o senhor escolhe os seus assessores?
Não mudou, até porque o Ezequias nunca teve problema nenhum. Trabalhou com o Alvaro Dias, com o Waldyr Pugliesi, com uma dezenas de políticos e nunca teve um desvio de conduta. Sempre foi uma pessoa correta, uma pessoa séria. Não sei bem o que houve até hoje nesse caso, mas envolveu uma oferta de um diretor da Assembleia para um cargo. Ele colocou a sogra, mas reconheceu o seu erro e pagou a sua conta. Agora, para quem militou a vida inteira na vida pública, quem esteve no poder, trabalhou com meu pai no Palácio Iguaçu, com o Alvaro, foi da militância jovem do PMDB, foi o único pecado que ele cometeu e reconheceu. No mínimo foi digno da parte dele agir dessa forma.
Osmar Dias
Durante a crise das passagens aéreas no Senado, o senhor foi acusado de utilizar bilhetes [pagos com dinheiro público] em benefício da sua família. Na época, o senhor falou que isso era permitido pelas regras. Mas houve um questionamento sobre a ética disso. O senhor não se arrepende?
Foi uma passagem que foi usada durante os 16 anos que estou lá [no Senado]. E, na época, os recursos liberados para o pagamento de passagens dos parlamentares pertenciam ao parlamentar. Era parte de um título chamado remuneração. Portanto, era lícito. Até o momento em que nós mesmos colocamos na lei, e eu era um dos cinco líderes que trabalharam nisso, e pedimos para que a mesa diretora do Senado estabelecesse uma regra clara separando a despesa com passagem da remuneração, para que não houvesse confusão. Portanto, aquilo que foi feito era perfeitamente lícito, ético.
Então, se o senhor pediu para mudar, é porque não concordava muito com isso?
Era para ficar claro. Não que houvesse irregularidade.
O senhor considera normal os parlamentares que estão em campanha continuarem a receber os salários do Congresso?
O regimento do Congresso diz que o parlamentar tem 60 dias de dispensas do Senado no período anterior às eleições. A campanha é um exercício do mandato.
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Leia a sabatina de Beto aqui e a de Osmar aqui.
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Pessoal, peço desculpas pela falta de atualização dos últimos dias. Estive em Curitiba para participar das duas sabatinas e, infelizmente, faltou tempo para o blog. Espero compensar até as eleições.