Imagine que você está preparando uma festa para milhares de pessoas. Gastou os tubos, endividou-se, assumiu uma série de compromissos com fornecedores. Após deixar tudo organizado, no entanto, descobre que a celebração corre o risco de não sair se não houver cerveja.
O problema é que você enfrenta uma série de dilemas sobre o consumo de álcool. Nove a cada dez dos seus amigos são contra porque acham que isso pode gerar brigas e confusões. Há dois caminhos a seguir:
1 – Liberar a bebida, mesmo com a reprovação moral de parte dos convidados.
2 – Proibir, apesar da possibilidade de a festa ser cancelada.
É essa encruzilhada que está prestes a ser colocada diante dos governadores dos 12 estados brasileiros cujas capitais vão sediar jogos do Mundial de 2014.
De acordo com a última orientação do Palácio do Planalto sobre a Lei Geral da Copa, a ideia é aprovar um texto que suspenda no plano federal a restrição imposta à venda de bebidas alcoólicas nos estádios pelo Estatuto do Torcedor, de 2003. Com isso, cada estado poderia tratar do tema como bem entendesse – e sete deles já possuem leis locais proibindo a prática.
O Paraná está entre a minoria que não possui legislação estadual, mas obedece ao Estatuto do Torcedor. Ontem, o governador Beto Richa (PSDB) disse em entrevista ao repórter da Gazeta do Povo Cícero Bittencourt que é uma falta de “coragem” do governo federal não resolver o assunto em Brasília. Sobre a decisão que vai tomar caso o Congresso jogue a questão para os estados, disse que “foi pego de surpresa” e que vai se reunir com sua equipe antes de se pronunciar.
No Palácio Iguaçu, contudo, já é dado como certo que Beto não vai patrocinar a edição de uma lei para vedar a bebida nos estádios durante a Copa. A explicação é simples: todos os estados já se comprometeram com a liberação ao assinarem em 2007 o caderno de encargos da Fifa. Ou seja, descumprir o acordo poderia tirar os jogos de Curitiba.
Sairia caro para a federação rever todos os contratos com hotéis e fornecedores da cidade, mas possivelmente mais barato do que descumprir o contrato com uma cervejaria que é parceira da entidade há décadas. Sem contar que Curitiba não tem o apelo turístico do Rio de Janeiro ou o econômico de São Paulo. Não seria tão complexo redistribuir as quatro partidas previstas para a cidade entre outras sedes.
O trunfo de Beto é que ele pode se justificar dizendo simplesmente que é um legalista e herdou uma negociação feita pelo antecessor, Roberto Requião (PMDB). Depois, há todo o esforço financeiro de estado e prefeitura para arcar com os custos das obras para a Copa. Trata-se de uma engenharia financeira que envolve R$ 133 milhões em recursos públicos apenas para a Arena (se isso é justo, fica para outra coluna).
Como contraponto, vale lembrar um estudo recente do Paraná Pesquisas que mostrou que 85% dos curitibanos são contra a venda de bebidas nos estádios durante a Copa. Trocando em miúdos: de um jeito ou de outro, Beto terá de tomar uma medida impopular. Ao que tudo indica, ele não vai assumir o ônus de abrir uma brecha para que o evento escape de Curitiba.
Mas não vai escapar de bancar a conta da cerveja.
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