Crédito da foto: Marcelo Andrade| Foto:

Jair Bolsonaro (PSL) foi ao Roda Viva para falar mais do mesmo – e, 90% do tempo, para os mesmos eleitores que ele já tem. Quando foi arrastado pelos entrevistadores para temas como ditadura, segurança pública, direitos humanos, pisou confortavelmente no terreno que mais gosta e jogou nitidamente para sua plateia.

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Mas houve os outros 10% do programa em que ele atuou para avançar um passo além de suas fronteiras.

Logo na primeira pergunta (“Qual seria a obra ou realização pela qual gostaria de ser lembrado se fosse presidente?”), pensou, pensou e soltou uma resposta que passou longe do padrão tiro, porrada e bomba.

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“Gostaria de ser lembrado como presidente que tornou nossa economia liberal.”

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O tamanho da trajetória liberal de Bolsonaro é similar ao da carreira de Adam Smith na zaga da seleção escocesa. O candidato, porém, não teve vergonha de admitir que virou a casaca e que deixou o time estatista para embarcar na equipe do laissez faire.

Fica a pergunta: o regime militar, referência de Bolsonaro, não foi estatizante? Tanto faz, agora a conversa é outra.

Na prática, o que Bolsonaro quer é falar com uma fatia do eleitorado descontente com as práticas econômicas do PT.

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Ele não sabe explicar ao certo ao que é isso (não à toa, recorre ao “posto Ipiranga” Paulo Guedes), mas tem noção de que se trata de um papo diferente. O sujeito que se encaixa nesse discurso é aquele que quer – e para ontem – menos imposto e mais emprego (e para ele, em tese, tanto faz o papo de Bolsonaro sobre o resto das coisas).

Mais um sintoma dessa estratégia: antes do Roda Viva, a provável vice na chapa, Janaína Paschoal, falou sobre uma aliança com o Novo, do também presidenciável João Amoêdo. O Novo pode parecer irrelevante nas pesquisas, mas tem uma capacidade de embasamento teórico bem mais profunda que a turma do PSL. Daria credibilidade à transição de Bolsonaro na economia, além de ter exatamente o mesmo perfil outsider.

Amoêdo, como era esperado, não quis saber das pontes abertas por Janaína. A questão é que ainda há muita campanha pela frente – e com ela questões como voto útil. Bolsonaro sabe que precisa manter seus atuais eleitores a qualquer custo para chegar ao segundo turno. Para vencer, no entanto, necessita de muito mais gente.

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