A mais recente pesquisa presidencial Datafolha expõe como a cabeça do brasileiro está um salseiro. Mostra Lula mais líder do que nunca na disputa presidencial de 2018. E, por outro lado, que a maioria dos brasileiros (54%) acredita que os fatos revelados pela Lava Jato são suficientes para levar o ex-presidente à cadeia.
É pretensão demais tentar explicar objetivamente uma ambiguidade desse tamanho. Clóvis Rossi, mais ponderado jornalista político do Brasil, descreveu o fenômeno (mais a surpreendente tolerância à gestão Michel Temer) como a prova de que o Brasil ainda é o país de Jeca Tatu. Sim, o fato de não conseguirmos simplesmente superar Lula e tocar a vida adiante é prova da nossa incapacidade para tratar a política com algum resquício de maturidade emocional ou intelectual.
Somos uma nação dividida em duas, mas não simplesmente entre lulistas e antilulistas. Estamos divididos entre os que odeiam amar Lula e os que amam odiar Lula. Dois tipos de caranguejo, que, além de só andar para trás, puxam o outro para dentro da panela com água fervente.
Os que amam odiar Lula não percebem que, quanto mais odeiam, mais fortalecem o outro lado. Odiar Lula sem limites é abrir um campo irracional de adoração do ex-presidente. O tipo de gente que compartilha notícia de que os filhos de Lula são donos da Friboi, da Havan ou de uma Ferrari dourada só colabora para a campanha de vitimização petista.
Do outro lado, os que odeiam amar Lula não aceitam o fato de que há fatos (de verdade!) que o colocaram na encruzilhada político-jurídica em que está hoje. Para tudo há uma explicação subliminar, a mão suja da grande mídia, do Papai Noel em parceria com o Tio Sam. Uma afetação que, é claro, alimenta o time do #ódiodobem.
Enquanto não nos curarmos de Lula, não vamos para frente. Viver de ex não faz bem para ninguém.
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