O presidente Michel Temer sancionou nesta sexta-feira (3/11) a lei que formaliza a criação do Ministério dos Direitos Humanos (MDH). A pasta perambulou pela Esplanada como secretaria, ora com status ministerial, ora como braço de outros ministérios, e agora ganha a visibilidade que (teoricamente) merece. Nem de longe, porém, foi a canetada de Temer que fez os brasileiros perceberem que têm mais um elefantinho se juntando à manada do primeiro escalão de Brasília.
O MDH caiu na boca do povo graças à ministra Luislinda Valois, aquela que queria acumular o salário no governo com a aposentadoria como desembargadora na Bahia. Se o pedido colasse, ela ganharia R$ 61,4 mil e furaria – e muito – o teto salarial do funcionalismo, de R$ 33,7 mil. Luislinda enviou uma carta de 207 páginas ao governo embasando o pedido de acúmulo com o argumento de que receber ‘apenas’ a diferença de cerca de R$ 3 mil entre o salário de ministra e a aposentadoria equivaleria à condição de trabalho escravo.
O posicionamento de Luislinda poderia, à primeira vista, ser apenas mais um sincericídio do timaço de Temer. Mas é muito pior.
Tudo nessa história está encharcado de simbolismo. E contorna um assunto que se transformou em outro vexame do atual governo, as discussões sobre trabalho escravo.
Luislinda é neta de escrava. Começou a carreira na magistratura em 1984 e foi uma das primeiras juízas negras do Brasil. É autora do livro “O negro no século 21”, de 2009, e filiada ao PSDB desde 2013.
A ministra vinha sendo cobrada para se posicionar mais fortemente sobre a portaria do Ministério do Trabalho que estabeleceu novas regras para a caracterização do trabalho análogo ao escravo, no dia 16 de outubro. É parcialmente injusto. No dia 20, ela declarou à Agência Brasil que a medida “fere, mata, degola e destrói a lei da abolição da escravatura”, em referência à Lei Áurea, assinada em maio de 1888.
Luislinda, contudo, foi cautelosa ao apontar “culpados” no governo e disse apenas que “o presidente tem a palavra” e que “não tem dúvidas de que ele [Temer] saberá como decidir”. Lá se vão semanas e Temer não decidiu nada, ou melhor, parece ter decidido não decidir nada. Há gente técnica que defende a medida, mas, a essa altura do campeonato, qualquer decisão do presidente para agradar um dos lados será uma derrota.
A junção dos casos trabalho escravo/Luislinda é mais um choque de realidade sobre como o governo Temer entrará para a história – uma perda de tempo a qual não poderíamos nos dar ao luxo de ter tido. A insistência do Parlamento em proteger um governo fraquíssimo custa cada vez mais caro para o futuro dos brasileiros. A ponte para o futuro de Temer (uma pinguela, como chegou a definir FHC) ruiu e nos aproxima cada vez mais do século 19.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF