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Cheiro de acordo branco no ar

Publicado na coluna Conexão Brasília, na edição impressa da Gazeta do Povo:

SECS
Serra e Requião: será que os dois são presidenciáveis?

O traço mais marcante da recente política paranaense talvez seja o tal “acordo branco”. Trocando em miúdos, trata-se de uma negociação em que os políticos se acertam e dividem espaços antes das eleições para evitar o risco de deixar tudo nas mãos do eleitor, esse enxerido. A prática, em grande parte, se deve a um motivo histórico – a maioria das atuais lideranças do estado tem a mesma origem.

Tudo começou com o fim da ditadura militar e a eleição de José Richa como governador, em 1982. Era a ascensão do PMDB, que nos últimos 26 anos só ficou de fora do Palácio Iguaçu durante a gestão Jaime Lerner. Das asas de Zé Richa não saiu apenas o filho, Beto, mas também Roberto Requião, Alvaro e Osmar Dias, quarteto que irá se digladiar por nacos de poder em 2010.

O tempo passou e cada um construiu o próprio caminho. Nessa trajetória, porém, as trombadas foram inevitáveis – ainda mais com a soma de Lerner ao grupo. Eis que surgiu a necessidade de delimitar espaços.

O acordo branco mais notório ocorreu em 1998, quando Alvaro acertou os ponteiros com Lerner, que brigava pela reeleição como governador, e participou da disputa pelo Senado sem enfrentar qualquer adversário relevante. Ambos conseguiram vitórias estrondosas. Em contrapartida, Lerner passou quatro anos sem nenhum aliado no Senado e suou para conseguir todos os empréstimos ao estado que precisaram ser aprovados pela Casa.

Em 2002, Requião até admitiu concorrer à reeleição como senador e apoiar Osmar para governador. O acerto só não saiu porque Alvaro convenceu o irmão de que era o favorito nas pesquisas. Resultado: acabou perdendo de virada para Requião uma eleição que era considerada favas contadas.

Quatro anos depois, Requião esforçou-se o quanto pôde para fechar todas as portas para os adversários. Consolidou uma chapa com o então rival PSDB, que só foi desmanchada após intervenção do diretório nacional tucano. Osmar, do PDT, foi chamado às pressas para a disputa e por 10 mil votos não estragou de vez o acordão.

Em 2008, veio a eleição para a prefeitura de Curitiba. Beto formou uma enorme coligação com 11 partidos, equivalente a 42% das legendas que participaram do pleito. Isolou o PT de Gleisi Hoffmann e, de quebra, enfrentou um despedaçado do PMDB, cujo candidato Reitor Moreira teve apenas 1,9% dos votos.

É daí que, supostamente, começou a ser produzido o alvejante que pode dar, ou melhor, tirar, a cor das eleições de 2010. Ao esparramar a oposição contra Beto no ano passado, Requião estaria na verdade pensando na campanha para senador no ano que vem. Obviamente, ninguém confirma o toma-lá-dá-cá, mas os últimos
acontecimentos dão veracidade à combinação.

Requião pode até lançar-se candidato a presidente da República, mas o alvo no mundo real é o Senado. Ao brigar com a cúpula do PMDB que quer a aliança nacional com o PT, o governador sabe que o resultado será a aproximação dele com o PSDB. Assim como ficou claro na visita de José Serra a Curitiba, na última quinta-feira.

Com o aval (seja ele formal ou informal) do PMDB, o caminho de Beto rumo ao Palácio Iguaçu ficaria devidamente pavimentado. Resta, entretanto, saber como ficam os irmãos Dias. Ambos negam qualquer chance hipótese de acordo – Alvaro diz que está na disputa interna do PSDB com Beto e Osmar garante que só faz planos para o governo do estado.

Se as declarações forem mantidas, a tendência é de uma das eleições mais disputadas da história do estado em 2010. Caso contrário, aumenta o cheiro de um generalizado acordo branco. Tão branco que deixaria o eleitor paranaense vermelho. De vergonha.

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