Um dos trunfos para vencer uma eleição é entrar na campanha com um partido (ou coligação) unido, falando a mesma língua. Antes, porém, é terapêutico quebrar o pau. Serve para esgotar todas as querelas internas e forjar uma candidatura mais madura.
A prática é especialmente mais interessante para quem está na oposição. Nos Estados Unidos, Barack Obama e Hillary Clinton se digladiaram por seis longos meses em 2008 para decidir quem seria o candidato democrata. Ela entrou como favorita, ele levou a melhor.
Da batalha interna saiu o tom da campanha, o “Yes, we can” e tudo mais. Ao longo dos embates com Hillary, que queria ser a primeira mulher presidente dos EUA, o discurso de Obama foi ficando mais palatável. Ao final, ela aderiu plenamente à campanha do oponente e foi fundamental para garantir o apoio dos eleitorados hispânico, feminino e idoso.
No Brasil, o PT já foi bom nisso. Em 2002, Lula disputou prévias contra o senador Eduardo Suplicy. Venceu com uma maioria de 80% e começou a pavimentar o caminho para enfim chegar ao Palácio do Planalto, depois de três derrotas seguidas em 1989, 1994 e 1998.
Lula cambaleou ao longo do primeiro mandato com o escândalo do mensalão, mas conseguiu a reeleição e saiu da Presidência com uma gigantesca aprovação popular. Ganhou força para abolir as prévias e escolher sozinho Dilma Rousseff para sucedê-lo. Deu certo, só que seria bem diferente se o PT não estivesse no poder e bem avaliado.
Em 2012, mesmo fora da Presidência, Lula tenta repetir a dose na prefeitura de São Paulo. No ano passado, ele desmontou as prévias paulistanas para ungir o ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato. Difícil dizer se vai dar certo, mas provocou um estranho efeito no PSDB.
Os tucanos, que têm uma prévia entre quatro candidatos marcada para dia 4 de março, agora podem mudar os planos a qualquer momento se José Serra decidir se candidatar. Seria o cúmulo do caciquismo. Ou melhor, a repetição do velho modelo de sempre.
Por todos os cantos percebe-se uma atração irresistível de se escolher nomes de cima para baixo. Na campanha municipal de Curitiba, Beto Richa (PSDB) apadrinhou Luciano Ducci (PSB), os ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann conduzem o PT para abraçar Gustavo Fruet (PDT) e até o senador Roberto Requião tenta reinventar Rafael Greca no PMDB. Os pratos-feitos estão quase prontos e a militância (se é que ela ainda existe) não teve direito de escolher qualquer ingrediente.
Todos esses casos locais e nacionais geram uma sensação de que estamos diante de falsos líderes – ou até pior, de uma falsa democracia. Você não tem opções entre os nomes que particularmente acha mais qualificados, recebe um menu pré-concebido pelos partidos. E como quem decide o cardápio são os caciques partidários, você vota em quem eles escolheram.
Na verdade, os escolhidos como candidatos a prefeito são aqueles que trazem mais benefícios para os políticos que estão no andar de cima – governadores, ministros, senadores… Por isso as prévias são um instrumento tão desprezado no Brasil. Na cabeça dos caciques, é melhor garantir o espaço por conta própria do que deixar isso por conta do eleitor.
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