Nunca uma eleição paranaense foi tão nacional. Se antes o estado figurava na segunda divisão das costuras nacionais, em 2010 passou a ser prioridade entre os presidenciáveis. Todos cobiçam o quinto maior colégio eleitoral do país e, talvez, o mais complexo.
Quando ainda imaginava-se uma disputa acirradíssima entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), muitos estrategistas projetavam que a Waterloo de 2010 seria travada no Paraná. Por isso gastou-se tanto tempo para definir as chapas que disputariam o Palácio Iguaçu. Traumáticas, essas negociações marcaram o rumo do confronto entre Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT).
Tudo começou com a possibilidade de o senador Alvaro Dias (PSDB) ser vice de Serra. O objetivo tucano era criar uma frente ampla que sufocasse os petistas no estado, trazendo Osmar para disputar a reeleição ao Senado na chapa de Beto. Por muito pouco não deu certo.
O pedetista deixou claro que não tomaria uma decisão que impedisse o irmão de disputar a vice-presidência. Dois fatores mudaram esse panorama. Lula mobilizou o aparato de sua base governista para convencer Osmar a concorrer, enquanto o DEM bateu o pé e pressionou para indicar o vice de Serra.
Mesmo nesse vaivém, os agora rivais na briga pelo governo do estado permaneceram muito mais tempo juntos do que separados. Foi literalmente aos 45 minutos do segundo tempo que Osmar se decidiu. Pesou a união das máquinas de PMDB e PT do mesmo lado e a garantia de que Lula participaria diretamente da campanha. Do outro lado, Beto juntou o que tinha às mãos: a popularidade em Curitiba e região metropolitana e a heterodoxa aliança com o PP de Ricardo Barros. De quebra, imaginava contar com um suposto favoritismo de Serra junto aos paranaenses.
Definidos os times, saltaram aos olhos as incongruências. Como Osmar poderia subir no mesmo palanque de Roberto Requião, aquele que o acusou de comprar uma fazenda no Tocantins com uma mochila de dinheiro? O que Beto diria aos curitibanos que acreditaram na promessa de que ele cumpriria integralmente o mandato na prefeitura?
Osmar ainda precisava equilibrar as próprias ambiguidades ideológicas. De filiado ao PSDB, integrante da base de FHC no Congresso e favorável à privatização da telefonia, ele passou a discursar como homem de esquerda, caçador das bruxas privatistas tucanas. Também começou a posar de irmão siamês de Lula, aquele cujo primeiro mandato qualificou em discurso no Senado, em 2006, como “o pior governo de todos os tempos” para a agricultura.
A reviravolta, no entanto, parece não ter mexido com a memória do eleitor. Lula tem feito diferença a favor de Osmar, graças à excelente performance da dupla quando aparece junta no horário eleitoral. Entre os dois, há uma cumplicidade televisiva digna das famílias que aparecem em café da manhã de propaganda de margarina.
Já Beto tem se virado nos 30. Antes Serra era um trunfo, agora virou um mico. Não tardou para que o presidenciável fosse jogado ao mar – assim como quase em todos os demais estados, é verdade.
Do bom moço do começo da campanha, quando era favorito absoluto, Beto move nos últimos dias um exército jurídico para evitar a divulgação de pesquisas e partiu para o ataque. Também empresta propostas do governo Requião, principalmente na área social. Justamente ele que sempre posou como a antítese do requianismo.
Entre contradições de todos os gêneros, as duplas Beto/Serra e Osmar/Dilma entram na reta final da campanha em clima de apreensão. Qualquer que seja o resultado das eleições de domingo, o diagnóstico está pronto.
Se Beto vencer, será apesar de Serra. Se o vencedor for Osmar, será graças a Lula.
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