Há três meses, o programa semanal Pânico na TV! estreava o quatro “Mitadas do Bolsonabo”. Na atração, o humorista Márvio Lúcio, travestido do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), sobe em um palco ao som de uma bandinha militar liderada por um anão e responde perguntas do público. A graça está no fato de “Bolsonabo” contestar tudo na lata, grosseiramente, não levando desaforo para casa.
A primeira edição acumula 1,679 milhão de visualizações no Youtube. Dos mais de dez quadros subsequentes, a audiência raramente fica abaixo de 1 milhão. Há milhares de comentários em cada publicação, na maioria feito por jovens, e laudatórios ao comportamento de Bolsonaro (e não do “Bolsonabo”). “Bolsonaro reeleito 2022”, “Imagine o Bolsonaro nos debates políticos!!!”, “Somente um mito para virar personagem do Pânico” são alguns exemplos do que é comentado por lá.
Curiosamente, o sucesso do “Bolsonabo” converge com a ascensão de Bolsonaro nas pesquisas para eleições presidenciais. De acordo com o Datafolha, ele tinha 8% das intenções de voto em dezembro de 2016, passou para 14% em abril e agora aparece com 16%. Está empatado tecnicamente em segundo lugar com Marina Silva (Rede), com 15%, e atrás apenas de Lula (PT), com 30%.
“Bolsonabo” não está só. O personagem caiu como uma luva dentro de um processo mais elaborado de suavização da imagem de Bolsonaro. O capitão da reserva que tinha uma imagem azeda, de ultraconservador antigay, vem sendo moldado aos poucos como um candidato cool. O segredo: captou como ninguém o padrão (muito baixo, por sinal) de como o brasileiro médio debate política no Facebook, onde a forma é um milhão de vezes mais valiosa que o conteúdo.
Enquanto a esquerda lulista dá as suas “lacradas”, a direita bolsonarista dá as suas “mitadas”. Lula é um hexadenunciado por corrupção? O que importa é que ele é um “homão da porra”. Bolsonaro não sabe nadinha de economia e acredita que o nióbio vai tirar o Brasil da lama? O que importa é que ele tem “coragem para falar o que pensa”.
A popularização de Bolsonaro contou nas últimas semanas com outras cartadas, como o apoio do volante Felipe Melo, do Palmeiras, e da cantora Juliana do Bonde do Forró. Mas nada é mais poderoso do que a página dele próprio no Facebook. Bolsonaro é o presidenciável mais seguido do Face, com quase 4,4 milhões de fãs (como comparação, Lula tem 2,9 milhões).
O deputado quase sempre lidera ou está pelo menos em segundo lugar em engajamento no Ranking de Influenciadores Políticos, ferramenta da Gazeta do Povo que mede o verdadeiro alcance dos políticos no Facebook. Dentre os vídeos publicados pelos influenciadores mais visualizados na rede social, quase sempre dá Bolsonaro – e quase sempre um Bolsonaro light. Tem Bolsonaro falando com a torcida em jogo do Flamengo, Bolsonaro tietado na praia, Bolsonaro tietado em aeroporto.
Se falta a Bolsonaro uma plataforma de governo, sobra estratégia em redes sociais. E isso não é necessariamente novo: o próprio Márvio Lúcio do Pânico tinha um personagem para Dilma Rousseff, sem contar na Dilma Bolada, uma presidente “fake” que foi trazida formalmente para dentro da estratégia de propaganda política do marqueteiro João Santana. Na política de hoje, discutir propostas reais se tornou chato demais.
E tudo que é chato demais não se converte em voto.
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