Há dois grandes buracos na democracia brasileira. O primeiro é o funcionamento interno dos partidos, que na prática funcionam como instituições privadas a serviço de pouquíssimos caciques. O segundo é a forma como os partidos se financiam e como gastam os recursos nas campanhas eleitorais.
Reportagem de Renan Araújo e Loise Clemente mostra um pouco de como isso funciona nas eleições para deputado estadual e federal. Até agora, apenas 225 (18,8%) dos 1.192 dos candidatos a esses cargos receberam alguma doação partidária. E dentro desse pequeno universo de afortunados, somente 31 receberam mais de R$ 100 mil – a grande maioria (64%) ficou com contribuições abaixo de R$ 10 mil.
O interessante é ver quem forma esse clubinho de 31 candidatos. 28 têm cargo eletivo ou público. Sobraram três nomes de fora.
O que isso quer dizer? Basicamente, que os partidos fazem um esforço financeiro notável para pré-selecionar os candidatos em quem você deve votar. E entenda que você também contribui para esse jogo de cartas marcadas, já que as legendas são financiadas em grande parte pelo fundo partidário, sustentado com dinheiro público.
Nas eleições majoritárias, isso é ainda mais marcante – é só ver que, nos últimos 24 anos, o único candidato a governador do PMDB foi Roberto Requião.
Por essas e outras, qualquer reforma política para valer deve obrigar os partidos a se tornar mais democráticos. E, além disso, rever a forma como eles são financiados e usam recursos em campanhas.
Enquanto isso não acontecer, o sistema continuará capenga. Você até tem o direito de escolher seus candidatos, mas todas as opções precisam passar pelo crivo das velhas raposas da política.