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O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), acaba de visitar os ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A ambos vendeu a tese de que é necessário criar uma frente ampla, com esquerda, centro e centro-direita para derrotar Jair Bolsonaro em 2022. Dino fez as contas e chegou à conclusão óbvia de que o PT e a esquerda sozinhos não têm perna para uma revanche.
Essa parte da equação é moleza. Ganha nota 10 quem conseguir encaixar as variáveis do centro e da direita para produzir o resultado final. O que leva a outro problema sem resposta: como definir o centro (e a centro-direita) hoje em dia?
Grosso modo, estamos falando de um campo aberto e ainda disforme para o qual os tucanos foram despejados. Onde eles compartilham espaço com os zumbis do Centrão, mais a nova política de movimentos como Agora! e RenovaBR. Um balaio de gatos - e é normal que seja assim, em um período de reacomodação política em que o pêndulo do poder saiu da esquerda e se moveu para a direita.
Mas, para o público brasileiro em geral, o que importa que um comunista de um estado dos estados mais pobres do Brasil comece a se movimentar por 2022?
Dino não tem chance de nada. A questão está nas entrelinhas e no personagem oculto que realmente importa nesse xadrez. O governador apareceu em fotos com Lula, no sábado (18), e com FHC na segunda-feira (20). Hoje em dia, posar ao lado de ambos tira muitos mais votos do que soma.
O recado é para os políticos. Lula posou junto com Gleisi Hoffmann, na linha do “Dino é gente nossa” (PT e PCdoB formaram chapa em 2018 com a dupla Fernando Haddad e Manuela D’Ávila). Já FHC apareceu a tiracolo com seu novo pupilo, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
No meio dessa salada, porém, o personagem oculto que realmente interessa é o apresentador Luciano Huck. “O Luciano Huck não representa a esquerda, nem a centro-esquerda, ele representa a Rede Globo”, atirou Lula para aproveitar a presença de Dino.
Já FHC é padrinho político de Huck. Tem aconselhado o afilhado a se assumir como um “radical de centro”. Para isso, ele precisa trabalhar para ser uma espécie de terceiro polo da disputa Bolsonaro x PT.
Nessa estratégia, quanto mais Huck apanhar dos dois lados, melhor. Dino ajuda nesse teatro. Assim como outros atores, como ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, que acaba de conceder entrevista à Gazeta do Povo.
Huck incomoda especialmente o PT porque é ele quem pode tirar o partido de Lula do segundo turno das eleições de 2022. A outra vaga está garantida a Bolsonaro. Pode anotar que a preferência dele, mais uma vez, será enfrentar o petismo.