A duríssima decisão do TRF-4 que aumentou a pena de Lula e o tornou ficha suja deveria provocar o efeito imediato de abrir espaço para um novo líder absoluto nas pesquisas. Deveria, mas passou longe disso. O petista continua impermeável eleitoralmente e, em paralelo à fidelidade do seu eleitorado, o que mais chama atenção no Datafolha desta quarta-feira (31) é como seus principais adversários não conseguiram capitalizar sua derrocada.
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E, no nicho de postulantes competitivos ao pós-Lula, a maior decepção é o desempenho do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Se fosse para Bolsonaro ser presidente da República, era o momento de ele explodir. Bolsonaristas vão espernear, dizer que a pesquisa é coisa da “Foice de S. Paulo”, mas com todas as circunstâncias deixando o militar da reserva na cara do gol, ele isolou a oportunidade de se consagrar por cima da arquibancada.
O novo Datafolha traz um total de nove cenários eleitorais. Cinco deles com Lula e quatro sem. Bolsonaro oscilou negativamente em todos eles, na comparação com a sondagem anterior, de dezembro. Continua, porém, cativo em segundo lugar nos questionários com Lula e em primeiro lugar nos demais.
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Em todos os nove cenários, a oscilação de Bolsonaro é mínima. Com Lula no páreo, ele varia entre 15% e 18% das intenções de voto. Sem o petista, entre 18% e 20%. Tem mais: ele perde em três cenários de segundo turno – para Lula, Marina Silva e Geraldo Alckmin. Como a margem de erro é de dois pontos porcentuais, a mensagem é que Lula fora da eleição significa pouquíssima coisa a favor de Bolsonaro.
Vários fatores colaboram para o projeto bolsonarista empacar. Pela primeira vez ele foi exposto verdadeiramente ao escrutínio público, com a série de reportagens da Folha de S. Paulo que coloca em xeque a evolução patrimonial da sua família. Perguntado sobre o que fazia com o dinheiro do auxílio-moradia da Câmara, já que possui apartamento próprio em Brasília, deu a antológica resposta de que “usava para comer gente”.
O impacto desse imbróglio, no entanto, foi mínimo. Segundo o Datafolha, 66% dos brasileiros não souberam das denúncias. Apenas 9% disseram estar bem conhecidos e bem informados do caso. Sinal de que o buraco é mais embaixo.
Bolsonaro parece ter batido no teto e corre o risco de ver esse teto cada vez mais baixo justamente porque se alimenta do sentimento anti-Lula. E, sem Lula na eleição, todo o discurso perde o sentido. Não à toa, uma das primeiras ações políticas dele após o julgamento do TRF-4 foi distribuir um vídeo com ataques ao mais provável sucessor de Lula na campanha, o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. Testado em um cenário do Datafolha, o baiano teve apenas 2% das intenções de voto.
Mais uma âncora que emperra Bolsonaro: a rejeição. 29% dos eleitores disseram que não votariam nele de jeito nenhum – o quarto pior desempenho dentre todos os nomes. Só é menos rejeitado que Michel Temer (60%), Fernando Collor (44%) e Lula (40%).
Embora essa não seja uma conta muito exata, já que os universos em questão podem se misturar, a soma das rejeições de Lula e Bolsonaro pode chegar a quase 70% do eleitorado. É uma fatia enorme e que pode tranquilamente definir quem será o próximo presidente. E que comprova que, se Bolsonaro fosse mesmo uma barbada num cenário sem Lula, já teríamos de ter visto alguma movimentação comprovada em pesquisas.
Metodologia
A pesquisa Datafolha foi realizada nos dias 29 e 30 de janeiro, após, portanto, o julgamento no TRF-4, que ocorreu no dia 24. O Datafolha ouviu 2.826 eleitores em 174 municípios. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou menos. E tem um nível de confiança de 95%, o que significa que, se for repetida 100 vezes, em 95 os resultados vão estar dentro da margem e erro. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR 05351/2018. O levantamento foi encomendado pelo jornal Folha de S.Paulo.
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