Michel Temer assumiu o governo vendendo a fantasia de que montaria um “ministério de notáveis”. O que se viu na prática foi um time de alvos da Lava Jato, notadamente em seu círculo mais próximo, liderado por Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia). Se passamos longe de um “dream team” político na Esplanada, assaltada pelo toma lá dá cá de sempre do nosso presidencialismo de coalizão, o consolo veio de um trio de ferro na economia.
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Ministério da Fazenda, com Henrique Meirelles, Banco Central, com Ilan Goldfajn, e Petrobras, com Pedro Parente, funcionaram por quase dois anos quase como um governo à parte. Com a trinca jogando junta, o Brasil saiu da recessão, os juros (taxa Selic) caíram de 14,25% para 6,5% ao ano, a ação da Petrobras subiu de R$ 9,80 para R$ 27,30 (está atualmente em cerca de R$ 16,00). Não, o país não está uma maravilha, mas é inegável que tínhamos uma recuperação mais consistente a caminho, apesar da coerente percepção generalizada de tudo o que passa pelo contato direto de Temer acaba em desastre.
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Eis que, como todos ainda sentimos na pele, os caminhoneiros (e seus patrões) resolveram colocar uma República ainda em pedaços no liquidificador. Do dia para noite, o que era bom ficou ruim e o que era tenebroso se transformou em uma maravilha. Teve liberal que achou lindo apoiar um movimento que acabou no Bolsa Diesel e viúva da ditadura defendendo a liberdade de expressão para acabar com a democracia.
Nessa confusão, não chega a ser surpresa que Pedro Parente tenha pedido demissão “em caráter irrevogável e irretratável”, como escreveu na carta de despedida. Embora insista que não tenha sido submetido a interferência política, Parente foi cuspido para fora do cargo muito antes, no dia 23 de maio, quando se viu forçado a reduzir o diesel em 10% por 15 dias. Segundo ele, se tratava de um gesto de “boa vontade” da empresa – embora as digitais de Temer estivessem por todos os lados.
Parente foi dragado para o olho do furacão por ser considerado o pai da política de reajuste diário do preço dos combustíveis, um remédio amargo em dias de dólar em alta para ajudar a tirar a Petrobras do buraco em que o deslavado intervencionismo do governo Dilma Rousseff a havia metido. Em um mundo ideal, a imprevisibilidade do modelo de precificação pode não ser o melhor para o consumidor. No mundo real da Lava Jato (lembra dela?) e de uma empresa em ruínas, especialistas sensatos do setor de energia concordam que se trata de um mal necessário.
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Parente pediu para sair simplesmente porque fez o que estava ao seu alcance para cumprir uma missão dificílima. Fazer a coisa certa, insistir nela em um momento de crise e pensar no longo prazo quase sempre envolve decisões dolorosas. No país do jeitinho, do deixar para o amanhã o que se pode fazer hoje, essa é uma falta gravíssima.
Uma das lições da greve dos caminhoneiros é que não estamos preparados a sofrer um pouco agora para não tomarmos uma surra no futuro. Os R$ 13,5 bilhões do Bolsa Diesel saem do bolso furado de um contribuinte que faz de conta que não sabe quem está pagando a conta. Nesse cenário desolador em que fazemos questão de não saber fazer contas, a demissão de Parente é apenas mais um retrato do Brasil que odeia dar certo.
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