Quando Dilma Rousseff ganhou a eleição de 2010, ouviu de Lula um conselho. “Acho que o Brasil precisa de um avião com maior autonomia para o presidente da República viajar”, disse o então presidente. Segundo o petista, era uma vergonha para um chefe de Estado brasileiro ter de fazer várias escalas em viagens de longa distância.
A dica foi dada apenas cinco anos depois de Lula gastar seu capital político na compra do Aerolula, um Airbus A-319CJ, pela bagatela de US$ 56,7 milhões (cerca R$ 360 milhões hoje). O problema era que o Aerolula tinha apenas 12 horas de autonomia de voo – o equivalente a cerca de 8,5 mil quilômetros. Para ir um pouco mais além da França, por exemplo, é necessário fazer escala.
Dilma não trocou de avião. Ao invés disso, usou uma parada técnica para fazer uma “escapadinha” em Lisboa, em 2014, que acabou em uma representação na Comissão de Ética da Presidência da República.
Temer parece ter concordado (ao menos parcialmente) com Lula. Em julho de 2016, dois meses depois de Temer assumir o Planalto, a Força Aérea Brasileira fechou contrato de três anos de aluguel de um Boeing 767-300ER. Esse sim, com capacidade para viajar 11 mil quilômetros sem escalas, como na viagem para a Alemanha, no dia 6 de julho (aquela com a famosa cena em que vaga entre autoridades mundiais sem ser cumprimentado por ninguém). O custo: US$ 19,8 milhões (R$ 71 milhões).
É pouco? É muito? Faz mais sentido alugar ou comprar um avião presidencial? Talvez a melhor pergunta seja sobre a tal “vergonha” a que se referiu Lula. Enquanto o Brasil continuar fazendo parte da segunda divisão do cenário geopolítico internacional, tanto faz como o presidente chega às grandes cúpulas mundiais, como o G-20. Vergonha mesmo é viajar para longe e não ter nada a dizer, como Temer e Dilma, ou falar bobagem, como fazia Lula.
Aliás, outra revelação sobre o tema que faz o brasileiro corar. Segundo revelação do jornal Folha de S. Paulo, a empresa vencedora da licitação para o avião de Temer está proibida de fazer operações aéreas no Brasil. No Brasil, sempre tem como piorar o que já é ruim.
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