Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) não são lá os candidatos a presidente mais carismáticos desde a redemocratização, mas estão prestes a bater um recorde televisivo. Encerrarão a campanha com um total de dez confrontos em debates. Foram seis no primeiro turno e mais quatro no segundo – ainda falta o de hoje às 23 horas, na Record, e o de sexta-feira na Rede Globo.
Em 1989, na primeira eleição direta após a ditadura, foi realizado o mesmo número. A diferença é que o vencedor, Fernando Collor (então no PRN), faltou aos oito que aconteceram no primeiro turno. Só marcou presença na reta final contra Lula (PT), quando os dois encontros foram organizados por um histórico pool entre as quatro principais emissoras do país na época (Bandeirantes, Manchete, SBT e Globo).
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) topou debater apenas uma vez. Em 1998, boicotou todos os encontros. Em 2002, foram cinco debates ao todo e todos participaram.
Há quatro anos, Lula estava com a reeleição encaminhada no primeiro turno e tentou repetir FHC. As ausências ajudaram a levar a disputa para o segundo turno, quando só então ele decidiu enfrentar Geraldo Alckmin (PSDB) diante das câmeras.
Todo esse retrospecto traz à tona uma dúvida: a realização de tantos debates em 2010 tem qualificado a campanha? Deveria. Mas o resultado, por enquanto, é bem duvidoso.
O espaço é fundamental para que o brasileiro pelo menos se familiarize com os candidatos. É válido especialmente para Dilma, que nunca disputou uma eleição antes. Mas também para Serra, que se esforça para diferenciar a imagem da gestão FHC.
Aí aparece a segunda questão, cabal: a Dilma e o Serra que participam dos debates são os verdadeiros Dilma e Serra? Infelizmente, não. São espécies de atores treinados para executar estratégias de marketing eleitoral.
Dos oito embates entre os dois até agora, talvez o primeiro do segundo turno, na Bandeirantes, tenha sido o único razoavelmente espontâneo. Acuada por não ter antecipado a vitória e vendo o opositor crescer nas pesquisas, Dilma foi para o ataque. Parecia, enfim, que estava desabafando, sendo uma pessoa mais normal – assim como Serra nos contra-ataques.
Na prática, contudo, participar dos encontros tem sido um martírio para os dois. Reza a cartilha dos marqueteiros que eles precisam entrar em cena somente para não cometer deslizes. E ambos os lados levaram ao pé da letra a instrução de que pesa mais a forma do que o conteúdo.
Mesmo exaustos, os presidenciáveis se esforçam para se manter impecáveis – nas roupas, gestos e sorrisos. Para aparecer bem na fita e cumprir a missão, deixam de lado as propostas, o debate de ideias. Dilma limita-se a escarafunchar privatizações enterradas na década passada, Serra capricha nos temas econômicos inviáveis, como o aumento do salário mínimo para R$ 600 e a duplicação do Bolsa Família.
Talvez o grande problema do modelo estabelecido seja que o telespectador-eleitor do Brasil é um sujeito enjoado. Aprendeu com a evolução das telenovelas nacionais a gostar de bons artistas e a desprezar exageros melodramáticos. Também por isso a audiência dos debates deste ano vai de mal a pior.
Entre evitar o aborrecimento ou cumprir o dever cívico de ver o que os candidatos têm a dizer cara a cara, a paixão nacional tem sido mudar de canal.
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