Publicado na coluna Conexão Brasília, na edição impressa de hoje da Gazeta do Povo:
“Fica Beto” talvez tenha sido o melhor slogan eleitoral de todas as campanhas nas capitais em 2008. Funcionou como um mantra espontâneo, que instigava o cidadão a se esforçar para manter o prefeito no cargo. Nem parecia que na verdade era o candidato quem pedia apoio.
A estratégia colaborou para a reeleição de Beto Richa com inimagináveis 778.514 votos (77,24% do total), contra 183.027 (18,7%) de Gleisi Hoffmann (PT). Era a mostra de um capital eleitoral tão grande que se tornaria difícil limitá-lo ao Palácio 29 de Março. Após a divulgação do resultado, nascia um candidato a governador.
Amanhã, o prefeito renuncia ao mandato e entra na disputa ao Palácio Iguaçu. Entra é um verbo cordial nesse caso, já que ele já está em campanha plena há mais de um ano. Mas e o “Fica Beto” como é que fica?
Até agora é difícil medir o que a decisão do prefeito significará para aqueles quatro quintos dos eleitores de Curitiba que compraram o slogan há pouco menos de dois anos. Beto lidera todas as pesquisas estaduais mais recentes para o governo do estado, com uma vantagem de aproximadamente cinco pontos porcentuais sobre o senador Osmar Dias (PDT). À primeira vista, poucos enxergam problema na decisão.
No começo do ano passado, um levantamento do Paraná Pesquisas mostrou que 60% dos curitibanos ficariam satisfeitos se ele deixasse o cargo para concorrer a governador. Mas o impacto real só será percebido quando a decisão for oficializada – quando o eleitor entenderá mesmo que se trata de uma renúncia. E que ao invés de cumprir o slogan de 2008, ele estará fazendo justamente o contrário.
Renúncia é um termo historicamente pesado para o eleitor brasileiro desde que Jânio Quadros desistiu de usar a vassourinha para varrer a bandalheira, em 1961, e abriu o caminho para o golpe militar, em 1964. Um fardo que Beto terá de carregar e que não será esquecido pelos adversários. É só reparar como Osmar tem reforçado o termo compromisso quando fala na eleição.
Ao olhar para o passado, no entanto, a decisão de Beto não é nenhuma novidade. O presidenciável José Serra (PSDB) usou o mesmo expediente quando deixou a prefeitura de São Paulo para eleger-se governador em 2006. Colou tão bem que repetirá a dose nesta semana, quando não terá mais como ficar em cima do muro e se candidatará a presidente.
Só que nem sempre dá certo. Em 1988, Pimenta da Veiga (outro tucano histórico) foi eleito para a prefeitura de Belo Horizonte. Jovem, sucumbiu à popularidade e dois anos mais tarde se candidatou a governador de Minas Gerais – mas não chegou nem ao segundo turno.
Beto tem dois bons exemplos dentro do próprio partido. Prova de que a decisão não obedece a uma fórmula mágica. É legítimo que ele queira se candidatar a governador, assim como é legítimo que o eleitor curitibano entenda a renúncia como uma traição.
Por isso é tão difícil prever o que acontecerá. Trata-se de uma longa novela que começa amanhã. O final será feliz? Depende do ponto-de-vista.
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