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O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello apresentou na semana passada uma solução “não traumática” para a crise política do país – a renúncia dos presidentes da República, Dilma Rousseff, da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Decano entre os deputados federais (exerce mandato desde 1971), Miro Teixeira (Rede-RJ) foi além e disse que o ideal seria mandar todo mundo para casa (incluindo os 594 congressistas) e realizar novas eleições gerais no ano que vem.

Em um exercício ainda maior de assepsia, talvez também fosse justa a suspensão das deliberações do Congresso tomadas neste ano. A lógica é simples: como os investigados são dos quatro partidos com maior número de cadeiras na Câmara (PMDB, PT, PSDB e PP), as votações estão contaminadas de alguma forma pela Lava Jato. E mesmo se você votou em um parlamentar de outra legenda, mas que fez coligação com alguma desse quarteto, ajudou a dar a elas essas bancadas.

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Claro que nenhuma das duas opções vai se concretizar. Mas é uma utopia com bastante lógica.

Afinal, a operação Lava Jato começou em março de 2014 e as acusações contra políticos só ficaram mais maduras depois das eleições. A lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com os nomes de 47 políticos (22 deputados e 12 senadores) suspeitos de envolvimento no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras saiu em março de 2015. Nessa época, eles já exerciam novos mandatos – e a dupla Cunha e Renan, capitã da seleção do Janot, acabava de se eleger para comandar o Poder Legislativo até fevereiro de 2017.

Varrer a bandalheira (pelo menos no discurso) é sempre um exercício delicioso. Apontar os erros dos outros, melhor ainda. Mas será que simplesmente passar a borracha no que aconteceu depois da Lava Jato resolveria a crise?

Não é à toa que o Brasil passa pelo maior escândalo de corrupção da história. É gigante porque coloca as grandes forças políticas nacionais na berlinda. Especialmente as duas legendas que polarizaram as últimas seis eleições presidenciais.

Trocar o PT pelo PSDB ou (pior ainda) pelo PMDB, mas manter as atuais estruturas de poder, é andar em círculos. Vide o mar de lama em que os três se permitiram entrar para nadar com Cunha. De um lado, os tucanos fazem vista grossa às denúncias contra o presidente da Câmara para manter a chama do impeachment acesa, do outro o governo acena com uma operação de resgate no Conselho de Ética para afastar queda de Dilma.

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O flerte duplo com Cunha é a maior facada nas costas do povo brasileiro desde que o Congresso derrubou a emenda Dante de Oliveira, em 1983, e impediu a volta das eleições diretas para presidente, em 1985. E tem como piorar. A reforma eleitoral patrocinada por Cunha e que já está em vigor só tem o objetivo de criar mais mecanismos de proteção para quem já está no exercício do mandato.

O fato é que, apesar de terrível para o moral e o bolso do país, a crise poderia até ter o lado bom de colocar a política brasileira nos eixos. Era o momento de dar uma chacoalhada, de buscar novos caminhos, mas que acabou sendo usurpado mais uma vez para deixar tudo como está. Em meio ao caos, não se vê nenhuma nova liderança ou um movimento partidário para romper essa armadilha.

Propor uma solução para o futuro, mesmo que utópica, é sempre mais interessante e produtivo que chorar sobre o leite derramado. Alguém se habilita?