O paranaense que ligar a televisão mais à noite, no horário nobre, vai dar de dar com um sujeito de olhos verdes e sotaque nordestino, prometendo “fazer mais” pelo Brasil. Hoje é o segundo dia das inserções do programa eleitoral do PSB no estado, que terá como estrela o governador de Pernambuco (e presidenciável), Eduardo Campos. Trata-se da aproximação mais intensa do político da moda no cenário nacional com o eleitorado local.
São 10 propagandas de 30 segundos, que começaram na sexta-feira, repetem-se nesta segunda e depois na quarta e na sexta. Parece pouco, mas é o recurso mais valioso que um candidato possui para entrar na casa das pessoas sem ser convidado. Desse contato começa a sair a resposta para uma questão importantíssima dentro do xadrez eleitoral de 2014: Campos vai colar no Sul?
A pergunta antecede outra, mais importante: Campos é mesmo candidato a presidente? Se depender das ordens repassadas pela direção nacional do partido ao comando paranaense, não resta dúvida. “Não tem volta, ele é candidatíssimo”, garante o presidente estadual do PSB, Severino Araújo.
Segundo ele, a construção de um palanque para o pernambucano no estado está a pleno vapor. Todos os 14 prefeitos da sigla, puxados por Reni Pereira, de Foz do Iguaçu, além dos três deputados estaduais e o federal Leopoldo Meyer foram avisados dos planos. Não chega a ser um exército, mas já é alguma base.
A estratégia para a aliança estadual também está desenhada. Na última década, o PSB transformou-se em um satélite do PSDB de Beto Richa, mas desta vez promete cobrar contrapartida. “Vamos apoiar a reeleição do Beto Richa, desde que ele esteja no palanque de Eduardo Campos”, diz Severino.
Surge outra dúvida: parece óbvio que Beto vai se engajar na campanha do correligionário e amigo Aécio Neves (PSDB), que também está em campanha pelo país. Para Severino, não tem problema, é só o governador apoiar os dois. A estratégia, lembra ele, deu certo com Jaime Lerner em 1994, quando o então candidato ao Palácio Iguaçu subiu nos palanques de Leonel Brizola (PDT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Ainda assim, como diria Garrincha, falta combinar com os russos, ou melhor, os eleitores. O diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, cita que na última pesquisa que o instituto fez no Paraná sobre a disputa presidencial de 2014, em abril, Campos tinha menos intenções de voto que o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) – aquele mesmo das confusões com gays e negros. Nem por isso haveria motivo para desespero.
Nas palavras de Hidalgo, “Campos é a novidade”, além do “único adversário que Dilma deve evitar no segundo turno”. Faz todo sentido. Em 2010, Marina Silva tinha esse carimbo e, em Curitiba, fez quase a mesma quantidade de votos que Dilma no primeiro turno.
Talvez a maior dificuldade de Campos, no entanto, seja um infame requício de preconceito contra os nordestinos. “Eu sei bem o que é isso, ainda mais me chamando Severino”, diz o presidente estadual do PSB, que desembarcou no Paraná em 1964. Pernambucano como Campos, ele disputou o governo do Paraná em 2002.
Terminou em sexto lugar, com 0,9% dos votos.
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