Virou esporte nacional falar das mil e uma manobras do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com ele, não tem derrota em plenário. No máximo, um empate, logo revertido a fórceps no dia seguinte – como no caso da redução da maioridade penal e das doações eleitorais de empresas.
Cunha é o ser maligno do vale-tudo que vai levar o país ao caos? Pelo contrário, ele é fruto justamente desse caos de valores que transborda para a política. O brasileiro não desiste nunca e sempre encontra uma maneira de se dar bem.
É assim quando dirigimos a 100 km/h em uma via de 60 km/h e damos aquela freadinha básica quando o radar se aproxima. É assim quando você comemora que seu time se livrou do rebaixamento no tapetão. É assim quando aquele pai protesta com a professora para passar seu filho de ano na marra.
Ou seja, todos somos respeitadores das regras, desde que as punições previstas nelas atinjam apenas os outros. E aí não cabe um julgamento de valor sobre o teor das propostas alvo de manobras. A questão é que a ditadura do jeitinho, no fundo, é ruim para todo mundo.
Pois um dia o caos pode se virar contra você. Já imaginou ser julgado por um crime que você não cometeu e só ver o caso encerrado após o juiz arrumar uma forma de condená-lo injustamente? Quem no Brasil pode dizer que isso não pode acontecer?
Só existem episódios como a reversão da votação da maioridade penal porque o salve-se quem puder é o valor mais consolidado da sociedade brasileira. Cunha é o cara que faz as coisas acontecerem a qualquer custo. É o Brasil em seu estado mais puro.
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