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Era abril de 2005 quando eu e meu irmão Noca decidimos viajar de férias para a Colômbia e Venezuela. Juntamos milhagens e conseguimos chegar por Bogotá e regressar por Caracas. Durante 23 dias, conhecemos os dois países por avião, busão e barco.

Era óbvio que não sabíamos muito bem o que viria pela frente. Na época não havia guias de viagem decentes de ambos os lugares. Encontrei dicas apenas em um Frommer’s mundial em inglês.

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O livro tinha duas páginas para a Colômbia, que ficavam em uma seção isolada dos demais lugares do mundo junto com nações tranqüilas como o Camboja. Dizia que se tratava de uma zona de conflito, conhecida mundialmente pelo seqüestro de turistas.

Sobre a Venezuela, uma descrição particularmente encorajadora: “Caracas is one of the most violents cities in the world…”

Que interessante, pensei. Omiti os detalhes do Noca, que acabava de voltar de um período morando não tão civilizadamente em Londres. E lá se foram os dois espertalhões para os confins do Noroeste-Norte da América do Sul.

Aproveitamos alguns dias em Bogotá. Entre hotéis toscos, baladas em que nos xingaram por nos confundirem com turistas americanos, conhecemos o Transmilênio, uma cópia bem-sucedida do sistema de canaletas exclusivas para ônibus em Curitiba, e os desplazados, camponeses expulsos de suas terras pelas Farc e que tiveram de viver como mendigos nos grandes centros urbanos.

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De avião, pela Avianca, fomos para Cartagena de Índias, cidade colonial toda cercada por muros no litoral caribenho. Era por lá que os espanhóis escoavam as riquezas pilhadas em todo subcontinente e por isso a necessidade de proteção. Um dos destinos mais doidos do mundo.

Estava embasbacado com os colombianos. Os caras são iguaizinhos aos brasileiros, divertem-se da mesma maneira, contam as mesmas piadas. E numa visita ao arquipélago Rosário, conhecemos um casal de venezuelanos que nos disse que a Colômbia era fichinha perto da Venezuela.

Otários, acreditamos no papinho e apressamos o passo para a Venezuela, de ônibus. Fizemos uma escala em Barranquilha, onde infelizmente não cruzamos com a Shakira nem com o Gabriel García Márquez. No meio da viagem, o mais legal foi ver um povoado que tinha uma placa enorme na entrada – “Aqui somos un pueblo libre de la lepra”.

Depois de muitas horas de viagem, chegamos a Maracaibo. No busão, fizemos amizade com uma argentina rotaryana que nos apresentou a uma enorme família de venezuelanos. Eram três irmãs e um irmão, tão gordinhos quanto legais.

Eles nos adotaram e nos levaram para todos os cantos da cidade…

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Aqui começa a parte política da viagem, afinal isso aqui não é caderno de Turismo. Maracaibo é uma cidade enorme, em que todos os moradores têm alguma relação com a PDVSA, a estatal petroleira venezuelana.

Lá, a enorme riqueza de alguns contrasta com a miséria da maioria. Mas a uma coisa todos tinham acesso – gasolina!

Lembro-me perfeitamente que naquela época um litro de gasosa custava R$ 0,08. Mais tarde, na Isla Margarita, um taxista definiu bem a situação: “es el regalito de Chávez para nosotros”.

Está bem, a Venezuela está na Opep, é craque no ramo. Mas o desperdício do combustível é brutal. Os frentistas, por exemplo, fazem como alguns pinguços no Brasil e quase sempre jogam um litro para o santo a cada tanque abastecido. Coisa de estarrecer.

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Pois esse é um detalhe menos ofensivo. Magnatas do petróleo, os venezuelanos desperdiçam uma chance de ouro de se preparar para o futuro. Sim, o petróleo vai acabar ou virar obsoleto dentro de quatro ou cinco décadas…

Enquanto isso a Venezuela segue incapaz de fabricar chiclete – até isso eles têm de importar do Brasil. Educação de qualidade, projetos de base para garantir sustentabilidade, nem pensar. Mas todo mundo tem um carrão daqueles de filme americano dos anos 70, que consome três litros de combustível por quilômetro.

Se o Brasil discute hoje qual exemplo seguir para explorar as riquezas do pré-sal (falam que o norueguês é uma maravilha), é bom ter nítido qual não deve ser adotado. Desperdiçar o ouro negro com caças chineses de última geração, como fazem os vizinhos, não é lá muito inteligente para uma nação em desenvolvimento.

Enfim, cada um com seus problemas. O fato, para quem quer uma dica de viagem, é que a Colômbia é bem mais interessante que a Venezuela. Mas lembre-se sempre de que a libertação de Ingrid Betancourt deixou um lugarzinho vago no cativeiro (a piada é de mau gosto, mas não pode ser desperdiçada).