Não se passou nem um ano desde a eleição de 2010 e muita gente que acabou de ganhar um mandato só pensa em outubro de 2012. Três deputados federais (10% de toda bancada paranaense) se articulam para concorrer à prefeitura de Curitiba. Outros dois são cotados para administrar Londrina, um Ponta Grossa, além de outros tantos que ainda podem se decidir no meio do caminho.
Os petistas Angelo Vanhoni e Dr. Rosinha já tentaram governar a capital antes. Vanhoni perdeu em 1996, 2000 e 2004; Rosinha em 1992. Já Ratinho Júnior (PSC), deputado mais votado no ano passado, quer se candidatar pela primeira vez.
Em Londrina, os postulantes são Alex Canziani (PTB) e André Vargas (PT). O primeiro já foi até prefeito interino e o outro também concorreu em 2008. Em Ponta Grossa, Sandro Alex (PPS) aparece como pré-candidato, assim como o irmão, Marcelo Rangel (PPS), que por sinal é deputado estadual.
Situações como essas se repetem pelo Brasil afora, mas têm peculiaridades. Elas ajudam a entender como os políticos desenham suas carreiras e, em especial, como encaram a passagem pelo Legislativo. Não há nada de errado em usar o mandato parlamentar como um trampolim – a deturpação é utilizá-lo como um para-quedas.
No sistema político brasileiro, quem comanda o Executivo tem bem mais instrumentos de poder que os parlamentares. O presidente, por exemplo, tornou-se o grande legislador da República. Prova disso é que todas as sessões ordinárias da Câmara dos Deputados no primeiro semestre deste ano tiveram a pauta trancada por medidas provisórias.
Também é o presidente quem dá as cartas no orçamento. Sobra aos deputados e senadores tentar driblar a pauta exageradamente governista nas votações e fiscalizar. O problema é que isso dá um trabalho danado e não traz grande prestígio eleitoral num país em que o que pesa é aparecer como pai (ou mãe) de obras públicas.
Nessa relação rebuscada, não são poucos os que reclamam que o Palácio do Planalto “sequestrou” o Congresso. Reclamam normalmente os que sofrem de síndrome de Estocolmo. Raríssimos são os deputados que não topam ser raptados em troca de cargos e recursos para seus currais eleitorais.
Senadores e deputados passam o dia com o corpo no parlamento e a cabeça do outro lado da rua, no Palácio do Planalto. Eles querem força, mas não aquela relacionada à elaboração de leis, do debate, do parlar. Querem ter acesso à chave do cofre, ou pelo menos serem convidados a abri-lo de vez em quando.
Por isso é injusto analisar a relação entre Executivo e Legislativo de maneira maniqueísta, comprar a ideia de que o governo é um monstro que tomou conta do Congresso na marra. Os parlamentares também têm sua parcela de culpa. E ela não é nada pequena.
Há saída para essa encruzilhada? O mais cômodo seria aparecer com uma fórmula mágica, uma lei para proibir que os parlamentares se candidatassem a outros cargos no meio do mandato. Pura hipocrisia.
Não são as regras do jogo que precisam mudar, mas a forma como elas são utilizadas. O trabalho de vereadores, deputados e senadores é que precisa ser mais valorizado. Pelos eleitores, prefeitos governadores, presidente e, essencialmente, por eles mesmos.
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