Até os parafusos dos sindicatos do ABC sabiam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sairia vitorioso de Porto Alegre nesta quarta-feira (24). O retrospecto das decisões do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) na Lava Jato, somado à agilidade no agendamento da sessão e, convenhamos, à robustez do processo em si, sempre mostraram que o caminho do petista era o abismo. Uma sucessão de buracos penal, político e, logo ali adiante, eleitoral.
Apesar de a realidade apontar para esse caminho, falar em “plano B” é algo expressamente proibido entre os petistas. E não é mera dissimulação. O partido deixa claro que vai insistir em Lula até onde houver recursos jurídicos disponíveis. Legalmente, o TRF-4 tornou Lula ficha suja, mas o jogo está sendo jogado nas entrelinhas do talvez, todavia, não é bem assim.
Lula é candidato a presidente e assim poderá permanecer até o dia 15 de agosto, quando ocorrem os registros de candidatura. Só depois disso cabe à Justiça Eleitoral aplicar a Lei da Ficha Limpa e dizer que ele é inelegível. Em tese, Lula poderia seguir até esse estágio do processo eleitoral inclusive se for preso.
Esses estudos sobre o cenário pós-condenação em segunda instância de Lula estão nas mãos da cúpula petista desde agosto do ano passado. O documento, formulado pelo advogado eleitoral Luiz Fernando Pereira, traça nove possibilidades de empurrar a candidatura enquanto estiver solto. Ainda há uma décima (off the record) – com o petista preso (hipótese que precisa ser trabalhada com uma estrelinha de atenção especial após os duros votos do trio de desembargadores de Porto Alegre).
Um dado interessantíssimo nessa estratégia de candidatura em banho-maria é que a legenda pode trocar de candidato até o limite de 20 dias antes das eleições. E somando-se a ele, no parecer de Pereira, vem um comentário sobre como o eleitor costuma reagir ao tapetão eleitoral. “Vários exemplos mostram que há rejeição popular à decisão judicial que indefere o registro, em especial de um candidato que esteja à frente nas pesquisas”, descreve o advogado.
Por essa matemática, quanto mais Lula resistir, mais chance de transferir votos para o seu sucessor. Seria o clímax da narrativa de vitimização petista – o martírio eleitoral. Lula abriria mão de ser candidato e, nas últimas três semanas pré-eleição, a campanha fica intoxicada por essa decisão e joga um candidato apoiado por ele para o segundo turno.
Agora, cadê esse novo nome? Palpite 1: ele (ou eles) estão sendo gestados há algum tempo. Não seria surpreendente se Lula tirar um poste da cartola, ao largo dos dois nomes que seriam os favoritos dentro da sigla – o ex-governador da Bahia Jaques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
E nada afasta a possibilidade de apoio a um candidato de outro partido. Ciro Gomes (PDT) está mansinho de olho no espólio lulista. Marina Silva (Rede) vê o apoio um pouquinho mais distante. Palpite 2: nenhum deles será escolhido.
Depois do julgamento de Porto Alegre, o enigma da eleição é saber quem será o nome que nascerá deste 24 de janeiro. Palpite 3: qualquer que seja o filho do pós-Lula, vai fazer os seus votinhos, pode até chegar ao segundo turno, mas definitivamente não será o próximo presidente do Brasil.
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