– Doutor, o José Dirceu vem para o julgamento?
– Não.
– Nenhum dia?
– Não há motivo para isso.
O diálogo acima ocorreu quando o advogado José Luiz de Oliveira Lima estava a três passos da entrada do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de já esperada, a declaração do defensor do ex-ministro da Casa Civil frustrou o batalhão de jornalistas. E não foi só a dele – os advogados dos principais réus do mensalão também anteciparam que nenhum cliente vai comparecer.
Com isso, os holofotes sobraram para os próprios “doutores”. Quase todos os principais criminalistas do país estão envolvidos no caso. Personagens reverenciados nos corredores de Brasília, eles são muitas vezes mais famosos que os próprios clientes.
A estrela da primeira sessão foi Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça que instalou a primeira polêmica entre os ministros. Partiu dele a questão de ordem que pediu o desmembramento do caso, o que acabaria com todo o planejamento montado para encerrar o processo até setembro. Logo depois, Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, relator e revisor do processo, se estranharam em plenário – Barbosa chegou a falar em “deslealdade” do colega, que já tinha um longo voto pronto proferir sobre pedido.
Thomaz Bastos é advogado do ex-diretor do Banco Rural, José Roberto Salgado, um dos citados no “núcleo financeiro” do mensalão, segundo a acusação original do ex-procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Até segunda-feira, também era defensor do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A junção de clientes fez com que o advogado fosse disputado palmo a palmo pelos jornalistas. Em uma pausa fora do plenário, quando sua questão de ordem já havia sido derrubada pela maioria dos votos, disse que a derrota já era prevista – mas que o calendário estipulado pelo STF “dificilmente” seria cumprido.
Thomaz Bastos permaneceu a maior parte do julgamento ao lado dos colegas na área reservada para os defensores. Destacava-se pela beca sob medida, com bordados nas mangas. Na mesma área estava outro velho conhecido da imprensa – Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que fez a defesa do ex-senador Demóstenes Torres, cassado no mês passado devido à sua ligação com Cachoeira.
Kakay é o advogado do publicitário Duda Mendonça, um dos cabeças da campanha que elegeu Lula pela primeira vez, em 2002. Na primeira sessão do mensalão, o advogado chegou a ficar lado a lado com Thomaz Bastos em uma cena curiosa. Ambos devem falar de novo quando começar a defesa dos clientes – etapa considerada como a “maratona” do julgamento e que deve levar ao todo 38 horas (uma para cada réu).
Ontem, no entanto, o recordista de declarações – pelo menos em entrevistas – foi Arnaldo Malheiros Filho. Advogado do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ele disse que o cliente “sempre admitiu” que deu dinheiro a políticos. “Mas foi dinheiro para campanha, não para comprar apoio no Congresso”, afirmou Malheiros Filho.
A tese de que os recursos eram apenas “caixa dois” e não para corrupção é central para o futuro do julgamento. Há também a hipótese de que Delúbio possa acabar levando sozinho a culpa pelo caso, o que beneficiaria os outros dois principais acusados do “núcleo político” do suposto esquema, José Dirceu e o ex-presidente do PT, José Genoíno.
Apesar da gravidade, o advogado disse que o ex-tesoureiro está “tranquilo”. “Ele até faz piada sobre o julgamento”, contou. A propósito, Delúbio também não tem qualquer plano de aparecer no STF.
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