Publicado na coluna Conexão Brasília, na edição impressa de hoje da Gazeta do Povo:
Políticos são seres estranhos. Aparentemente vivem brigando. Por poderes, cargos e, em raras oportunidades, até por ideologia. Mas há também os momentos de compaixão. Nesses casos eles ficam ainda mais esquisitos.
Lula tem feito uma aguerrida defesa de José Sarney. Poucos entendem o porquê. Ainda mais quando olham para o passado dos dois.
Sarney representa a “velha política”, a presença constante em todos os governos. Foi unha e carne com a ditadura militar, pulou para o barco do PMDB durante a redemocratização e chegou à presidência do Congresso Nacional tanto no período FHC quanto na Era Lula.
Sarney é inegavelmente habilidoso. Sabe o peso do legado que construiu ao longo dos últimos 50 anos. Até certo ponto, tem razão ao dizer que não é uma pessoa comum – o errado é acreditar que merece julgamento diferenciado por causa disso.
Lula nasceu em outro universo. Foi retirante – e não coronel nordestino. Encarou a dureza do movimento sindical durante a ditadura, fundou o Partido dos Trabalhadores e depois trilhou o caminho que todos conhecem.
No meio desse trajeto, as trombadas com Sarney foram corriqueiras. Em 1986, recém-eleito deputado constituinte, Lula chamou o então presidente da República de “grileiro” (“Sarney não vai fazer a reforma agrária coisa nenhuma”). Um ano depois, de “ladrão” (“Adhemar de Barros e Maluf poderiam ser ladrões, mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República”).
Eis que Lula conseguiu ser eleito e reeleito presidente. Redefiniu-se como uma “metamorfose ambulante” e, em 2006, disse que jamais teve a intenção de ofender Sarney.
Há seis meses, contrariou o próprio partido ao lavar as mãos na disputa pela presidência do Senado. Foi o golpe de misericórdia na candidatura de Tião Viana (PT-AC), que teve 32 votos contra 49 de Sarney.
Nada se compara, entretanto, à defesa feita nos últimos dias. Mesmo com uma popularidade recorde, Lula causou calafrios na opinião pública ao dizer que Sarney não poderia ser julgado como uma pessoa “normal”.
Na semana passada, constrangeu o PT mais uma vez ao fazer o partido mudar o posicionamento favorável ao afastamento temporário de Sarney. Tudo isso, segundo o presidente, para manter a “governabilidade” do país.
Na interpretação de Lula, os ataques ao colega fariam parte de um bombardeio mais amplo contra ele próprio. Em resumo, o governo é Sarney e Sarney é Lula.
Para aqueles que acompanham de longe a democracia brasileira ao longo das duas últimas décadas, o cenário parece surreal. Na verdade, porém, esse é o retrato fiel do relacionamento entre políticos no país. Se eles brigam, é porque se amam.
E vice-versa.
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