Publicado na coluna Conexão Brasília:
Em tempos de campanha eleitoral ultra-antecipada, eis que Ciro Gomes (PSB-CE) saiu das catacumbas na semana passada. Ao velho estilo cangaceiro, atirou tanto contra Dilma Rousseff (PT) quanto José Serra (PSDB). Disse que a partir de agora vai parar de apenas pensar alto em respeito a Lula.
Ciro andava muito sumido, até demais. Nos últimos anos, ficou mais famoso por ser marido da Patrícia Pillar do que pela atuação parlamentar – alguém aí pode citar um feito dele como deputado federal? Recentemente, passou um mês e meio cuidando de um problema de saúde e ainda teve de dar assistência à sogra, que morreu de câncer em fevereiro.
O retorno à cena pública ocorreu com um discurso acalorado na Câmara, na última quarta-feira. O cearense esbanjou bons modos ao dizer que o ensino público nas universidades brasileiras é “uma merda”. Estendeu as críticas à saúde, citada como “um desastre”, para atingir o ex-ministro Serra.
Sobre Dilma, falou que a base aliada não pode simplesmente acatar uma candidatura que nasce de cima para baixo. E soltou a frase mais genial para descrever a situação da queridinha de Lula: “time que não joga não tem torcida”.
Com duas eleições presidenciais nas costas (terceiro lugar em 1998 e quarto em 2002), Ciro sabe do que está falando. Tanto que aparece em segundo lugar na maioria das pesquisas de sucessão presidencial – muito atrás de Serra, mas muito à frente de Dilma. Pode não ter os torcedores mais fiéis, mas indiscutivelmente eles são numerosos.
Seria ingenuidade dizer que Ciro é hoje carta fora do baralho. Apesar do sumiço nos últimos tempos e de integrar um partido próximo ao nanismo, os eleitores ainda sabem quem ele é, fator fundamental em uma disputa presidencial. Além disso, não perdeu o velho jeitão impetuoso de fazer política.
Vale lembrar que em 2002 o cearense tinha tudo para ganhar. No papel, simbolizava uma solução mais light de mudança do que Lula. Era ícone da esquerda esclarecida do PPS, do voto limpo que poderia conduzir o país a um crescimento econômico sustentável após os penosos últimos anos da gestão FHC.
Ciro só não contava que o que então era qualidade – a impetuosidade – virasse o fio da navalha. Ao mesmo tempo em que avançava nas pesquisas, aumentava o tom das grosserias, até o ponto em que disse que o único papel de Patrícia Pilar na sua campanha era dormir com ele. Depois de receber uma série de bordoadas no horário eleitoral promovidas pelo PSDB, nunca mais tirou da testa a pecha de machista-brucutu.
Só que nas tantas voltas que a política dá, esse traço de personalidade pode até deixar de ser problema. Afinal Serra e Dilma não são exatamente sinônimo de finesse. Ciro captou a mensagem e partiu para cima de ambos do jeito que mais sabe.
Mais sensato, porém, é aquietar os ânimos. Do ponto de vista do eleitor, Ciro seria um candidato interessante para deixar a campanha menos polarizada, mais plural. Se optar pela pancadaria, contudo, vai rebaixar a campanha ao mesmo nível que ele próprio coloca a educação nas universidades públicas brasileiras.
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