Pense naquele chefe com fama de workaholic, que não tem papas na língua para cobrar a equipe e detesta fazer social. Você e seus colegas possivelmente acham que ele é um mala. Mas se fossem donos da firma, provavelmente diriam que o sujeito é o máximo.
Talvez seja esse o encanto da presidente Dilma Rousseff após 15 meses de governo. 77% dos “patrões” brasileiros aprovam a petista, de acordo com pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada.
Parece que a maioria comprou a ideia de que ela é mesmo uma gerente durona, que coloca os políticos no seu devido lugar. Há algum tempo, poucos analistas diriam que isso seria possível. Em 2010, Dilma precisou tomar um banho de marketing para disputar a eleição presidencial contra José Serra (PSDB). Não ficou lá a pessoa mais carismática do mundo, mas como o opositor também era bem mediano nesse quesito, a transformação deu para o gasto.
Passado o embate, veio o dilema. Uma coisa é sorrir para o eleitor durante três meses de campanha, outra (bem mais arriscada) é tentar parecer boa-praça durante quatro anos de mandato. Dilma decidiu não forçar a barra. Desde que assumiu o Planalto, tem se mantido espontânea, ou melhor, genuinamente antipática.
A presidente foge o quanto pode dos discursos públicos, das entrevistas, do papo sobre politicagem. O que ela gosta é de ficar no gabinete, cobrando ministros, bolando estratégias, aferindo resultados.
É tudo o que os políticos em geral detestam fazer, mas que por algum motivo foi bem digerido pelos brasileiros.
Há os que dizem, por outro lado, que o país passa por um momento de otimismo econômico tão grande que blindaria a avaliação de qualquer presidente. Pleno emprego, crédito e perspectiva de consumo são sim palavras mágicas para a popularidade. Existem, no entanto, outros aspectos na pesquisa que chamam a atenção.
A euforia contrasta com um puxão de orelha justamente no campo da economia. 65% dos entrevistados desaprovam a política de impostos do governo. O item foi o mais mal avaliado na sondagem.
Trocando em miúdos, o brasileiro médio está contente pelo fato de ter trabalho e, por isso, poder comprar uma geladeira a prazo. Mas ele sabe que o negócio envolve um caminhão de tributos. E começa a se sentir cada vez mais desconfortável quando calcula que, não fossem os impostos, poderia estar levando o refrigerador e mais um forno elétrico.
O raciocínio vale para o pessoal da classe C e também para quem está no topo da pirâmide social. A propósito, um dia antes da divulgação da pesquisa, Dilma anunciou um pacote de R$ 60 bilhões de apoio à indústria, que incluía uma série de desonerações tributárias. Nem assim deixou de ser malhada pelo empresariado.
Essas manifestações, ao contrário de serem simplesmente ambíguas, mostram um amadurecimento social. Saber reconhecer que o país vai bem não é sinônimo de alienação enquanto há consenso de que existem aspectos que precisam ser melhorados. E muito.
Por isso é ótimo que o brasileiro médio continue pensando como um patrão da presidente. Até 2014, ela tem carta branca para conquistar a antipatia dos políticos à vontade. Só não pode deixar de entregar resultados.
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