Foram necessários cinco dias para o governo do estado ao menos esboçar um mea culpa sobre o confronto que acabou com 213 feridos no Centro Cívico. E a mudança de comportamento partiu de um personagem-chave da operação, o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Francischini.
“Não tem justificativa para o que aconteceu. As imagens são terríveis e nada justificativa. Temos duas obrigações agora. A primeira é instaurar um inquérito com todo rigor necessário e, inclusive, a designação de um promotor de Justiça para acompanhar todos os atos deste inquérito policial. A segunda é que também temos que avaliar a atuação destes grupos radicais, que foram o grande estopim desse movimento policial”, disse, durante coletiva hoje pela manhã.
É possível, a partir da declaração, fazer três diagnósticos:
1) O governo parece ter desviado, pelo menos no momento, da tese central de que foi vítima de uma armação política do PT e dos sindicatos.
2) O princípio de reconhecimento de culpa indica que cabeças rolarão. É nítido nas palavras de Francischini que deve sobrar para o comando da PM. Nos bastidores, cresce a especulação de que o comandante Kogut seria o primeiro escolhido.
3) Há uma intenção clara de se fomentar o mito dos “black blocks”. Afinal, quem são eles? Nenhum dos 14 presos na quarta-feira era “black block”, segundo a Defensoria Pública e a OAB. Será que eles são tão organizados assim? E, se foram tão preponderantes para a confusão, por que não foram presos no dia? E, afinal, bater em “black block” pode? Um contingente tão gigantesco de policiais não teria condições de atuar pontualmente, prendendo supostos arruaceiros, com maior precisão? Ao não deixar claro quem é o alvo, abre-se espaço para criar o bode expiatório perfeito.
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