Um governo mais feminino, técnico e, em tese, menos sujeito às turbulências políticas. Assim é o cenário desejado pela presidente Dilma Rousseff com a escolha da senadora Gleisi Hoffmann para substituir Antonio Palocci na Casa Civil. Ao tomar posse ontem como ministra, a paranaense fez questão de citar que se inspira na chefe – assim como Dilma não escondeu o apreço por características semelhantes às suas que enxerga na subordinada.
“A senadora Gleisi tem sólida formação técnica e é uma grande gestora pública, provou isso em todas as funções que exerceu. A agora ministra-chefe da Casa Civil se notabilizou pela competência como administradora”, afirmou a presidente, em discurso no Palácio do Planalto. Cinco minutos antes, a paranaense falou que pretende agir como Dilma, “porque ela age da maneira certa, com clareza, razão e sentido público”.
Gleisi dividiu o dia entre a despedida do Senado e a chegada ao ministério. No Parlamento, fez um discurso enxuto, de seis minutos, no qual selou uma espécie de armistício com a oposição. Na sequência, escutou 1h20 de apartes dos colegas, o que atrasou a cerimônia de posse no Planalto.
“Quero aqui manifestar minha deferência aos integrantes da oposição. Todos foram adversários duros no debate, mas prevaleceu sempre a convivência democrática”, declarou. Também negou o rótulo de “trator” governista. “Não considero essa a melhor metáfora para quem exerce a política e sempre se dispôs a debater, ouvir e construir consensos.”
O primeiro a falar após o discurso foi o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL). “O Senado, com a sua saída, perde em qualidade”, afirmou o alagoano. Do oposicionista Demóstenes Torres (DEM-GO), ouviu conselhos para levar à presidente: “não é só nas crises que o Governo deve ter interlocução com setores da oposição, mas também na normalidade, na democracia”.
Apesar de a paranaense ter sido escolhida para fazer o trabalho de coordenação, gestão e controle dos programas de governo entre os diversos ministérios, há um consenso de que Gleisi também terá relevância no trabalho de articulação política. Já no Planalto, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, fez questão de esclarecer os repórteres que a mulher começou na política aos 14 anos, no movimento estudantil. “Ela tem traquejo político, mas também é disciplinada”, complementou.
A disciplina deve ser mesmo a principal exigência de Dilma. O temor da presidente durante a crise que derrubou Palocci era que os problemas paralisassem o funcionamento do governo. Na prática, o escândalo acabou tirando o brilho do programa tido como símbolo da atual gestão, o Brasil Sem Miséria, lançado há uma semana.
Nos discursos de Gleisi e Dilma também ficou clara a intenção de valorizar ainda mais a participação feminina no primeiro escalão. A paranaense passaria a imagem de que as mães também podem ser bem-sucedidas na política. “Está na cara que essa estratégia tem o DNA do João Santana”, afirmou um senador da oposição, referindo-se ao marqueteiro da presidente na campanha presidencial.
Estratégia ou não, os comentários sobre o estilo Gleisi acabaram amenizando a perseguição ao ministro Antonio Palocci. O senador Roberto Requião (PMDB), um dos 20 que assinaram o requerimento de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o crescimento patrimonial do ex-ministro, puxou o coro dos que consideram o caso encerrado.
Causa paranaense
Tanto no Senado quanto no Planalto, Gleisi foi prestigiada por dezenas de lideranças do estado e enfatizou que não deixará de atender demandas do Paraná. “Meu afastamento do Senado não me afasta dos compromissos que assumi. Estou mudando de instância, mas não de caminho”, declarou aos senadores.
Para encerrar, citou um poema da conterrânea Helena Kolody: “Deus dá a todos uma estrela, uns fazem da estrela um sol. Outros nem conseguem vê-la.” A nova ministra disse que se esforça para estar no primeiro grupo.
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