Da coluna Conexão Brasília, publicada hoje na Gazeta do Povo
Tragédias são como cascas de banana para governantes. O passo em falso em um momento de comoção coletiva pode arruinar qualquer gestão, por mais bem avaliada que seja. Na tempestade, parecer insensível ou lerdo é muito pior do que ser incompetente.
Os exemplos são universais. Em agosto de 2005, primeiro ano do segundo mandato de George W. Bush, o furacão Katrina dizimou Nova Orleans. O fenômeno provocou 1.833 mortes, 200 mil casas ficaram debaixo d’água e 1 milhão de pessoas tiveram de ser evacuadas da região.
A princípio, Bush tratou o problema como uma marolinha. Tarimbado pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, manteve distância, enquanto rivais políticos e artistas se mobilizavam aos montes para socorrer as vítimas. A lentidão e suposto desdém do presidente ajudaram a selar o futuro dos republicanos e fortaleceram o fenômeno Barack Obama.
Outra trapalhada histórica ocorreu na Espanha, mas não por uma tragédia natural. Em 11 de março de 2004, terroristas islâmicos espalharam bombas pelo metrô de Madri e mataram 191 pessoas. Faltavam poucos dias para a eleição do novo primeiro-ministro – ou presidente de governo, como se diz por lá.
O então ocupante do cargo, José Maria Aznar, precipitou-se ao culpar o ETA (grupo separatista do País Basco) pelo atentado e jogou toda opinião pública contra seu candidato na sucessão, Mariano Rajoy. A atitude destroçou o Partido Popular – espécie de DEM espanhol -, que nunca mais conseguiu chegar ao poder.
No Brasil, as enchentes em Santa Catarina foram a segunda prova de fogo do governo Lula. A primeira foi o acidente com o avião da TAM, em julho do ano passado, que desencadeou meses de caos aéreo. Na época, o presidente foi considerado “frio” ao não confortar pessoalmente as famílias das 187 vítimas.
A antipatia aumentou quando o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, foi flagrado fazendo gestos obscenos enquanto supostamente comemorava o fato de que o acidente foi provocado por uma falha técnica do avião – e não por problemas na pista do aeroporto de Congonhas, que é de responsabilidade do governo. A crise passou, mas deixou cicatrizes.
E as marcas ao menos ensinaram o Palácio do Planalto a agir com rapidez na catástrofe catarinense. Lula ouviu pacientemente o governador Luiz Henrique (PMDB), gastou a tarde da última quarta-feira sobrevoando cidades atingidas e deu declarações convincentes – como a de que as enchentes foram a principal tragédia enfrentada por sua gestão. Fora do plano emocional, também foi hábil ao assinar a medida provisória que libera R$ 1,6 bilhão de crédito extra para os estados atingidos – vale lembrar que a coisa segue feia no Espírito Santo.
Não que os mortos no avião da TAM não tenham comovido o presidente, mas desta vez ele e sua equipe ficaram atentos a possíveis deslizes. Ao desviar das cascas de banana em Santa Catarina, Lula afastou de Brasília um problema monstro em um período de esforço concentrado para conter a crise financeira mundial. Mostrou ter aprendido que em hora de tragédia não se brinca. Nem se escorrega.
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