É preciso dar desconto ao primeiro ano de um governo. O gestor recém-chegado pega o orçamento montado pelo antecessor, tem de arrumar a casa, se aprumar na cadeira de chefe. A herança pode até não ser tão maldita como muitos tentam descrever, mas trata-se mesmo de um período complicado.
No segundo ano a história é outra. Como acabou o carnaval, começou a hora de Dilma Rousseff e Beto Richa mostrarem para valer a que vieram. As promessas de campanha têm de sair do papel.
No Paraná, Richa orgulha-se de ter aproveitado o início do mandato para criar um ambiente de “diálogo”, mais favorável aos investimentos da iniciativa privada. É bom, mas é pouco. Para quem não lembra, em 2010 ele havia prometido um aumento de 26% para os professores, a contratação de cinco mil policiais e a construção de 22 novos centros de especialidades médicas.
Até agora o reajuste do magistério foi de menos da metade (12,79%). Em 2011, foi autorizada a admissão de 3,2 mil policiais. Na área de saúde, a situação vai ter de andar na marra, graças à regulamentação da Emenda 29.
Já Dilma havia se comprometido a levantar mais dois milhões de moradias pelo programa Minha Casa, Minha Vida, construir 500 Unidades de Pronto Atendimento de Saúde (UPAs) e manter o controle da inflação. Até dezembro de 2011, haviam sido fechados 354 mil contratos para construção de novas residências e foram inauguradas 30 UPAs. Já a inflação ficou em 6,5% ao longo do ano passado, exatamente no teto da meta.
A medir pela popularidade atual dos dois governos, parece que os eleitores já deram o desconto devido ao ano inaugural. Mas será que eles pararam para pensar no que realmente foi colocado em prática por Richa e Dilma? Aí vem o outro lado da moeda, menos racional: ambos ainda conservam um certo encantamento, aquela coisa de início de namoro.
Após dois mandatos, havia um desgaste natural das imagens de Lula e Roberto Requião. Dilma não é afável e carismática como o ex-presidente, mas tem um discurso menos populista e mais pragmático. E Richa é uma figura indiscutivelmente mais leve que Requião.
Apesar disso, atuais presidente e governador devem grande parte do “sucesso” momentâneo aos antecessores. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados divulgados na semana passada comprovam que a maré continua positiva. Com emprego em alta, o que não acontece do dia para a noite, fica difícil a avaliação cair.
A questão é saber se os dois vão aproveitar a onda de agora em diante e ir mais longe. Brasileiros (e paranaenses) que tiveram o gostinho de ascender socialmente nos últimos anos não querem mais saber de estagnação. Cabe ao Estado orientar (ou pelo menos não atrapalhar) esse crescimento.
As barreiras de sempre, no entanto, continuam onde sempre estiveram: carga tributária elevada, corrupção, patrimonialismo, etc. Seria ótimo se Dilma e Richa usassem suas respectivas popularidades para rompê-las. Aí sim eles entrariam para história.
Essa, infelizmente, ainda é uma segunda etapa. Por enquanto, a obrigação é entregar o feijão-com-arroz das promessas feitas durante a campanha. Mas cobrar uma sobremesa não custa nada.
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