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É quase imperceptível, mas em algum lugar nas últimas confusões do Congresso Nacional – a votação do Código Florestal e a discussão sobre os direitos dos homossexuais – há um pouco de ideologia. Em jogo, a velha concepção de direita e esquerda. Pena que ela seja tratada de maneira tão maniqueísta.

No Senado, as socialistas Marta Suplicy (PT-SP) e Marinor Brito (PSOL-PA) fizeram força na última quinta-feira para tentar emplacar a votação da lei que criminaliza a discriminação contra homossexuais. Foram barradas pelo lobby da moral e dos bons costumes. E ainda tiveram de encarar o protesto do deputado carioca Jair Bolsonaro (PP), ferrenho defensor da direita conservadora no Congresso.

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Bolsonaro aporrinhou as senadoras com sua cartilha “antigay”. O material é uma resposta à cartilha que o governo federal vai distribuir aos professores de escolas públicas com informações sobre a homossexualidade. Houve bate-boca entre o deputado e Marinor – e a votação do projeto na Comissão de Direitos Humanos acabou adiada.

Horas antes da confusão, ainda de madrugada, parlamentares se digladiaram no plenário da Câmara sobre o Código Florestal. O comunista Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do projeto, apresentou um texto que desagradou à esquerda. Ao mesmo tempo, arrancou elogios de dois fundadores da União Democrática Ruralista (UDR), os deputados Abelardo Lupion e Ronaldo Caiado, ambos do DEM.

Comunistas e ruralistas juntos? Só um médico para explicar. “O Aldo é um stalinista. Para os stalinistas, como vimos na União Soviética, o meio ambiente é tratado como uma barreira para o desenvolvimento. É uma visão tão extrema que acaba se confundindo com o extremismo da direita”, diz o deputado paranaense Dr. Rosinha, líder de uma das correntes mais à esquerda do PT, a Democracia Socialista.
Correta ou não, a interpretação de Rosinha ajuda a expor a falta de sofisticação do debate ideológico no Congresso. É o eterno jogo do mocinho contra o bandido.

Ambientalistas tentam satanizar ruralistas, homofóbicos tratam gays como aberrações.
E vice-versa.

Sim, falta mais substância à maioria dos parlamentares, que são bons mesmo é de fisiologismo. No fundo, o único assunto que eles dominam é a política de cargos, de alianças eleitorais, da defesa de interesses particulares. Não é à toa que o PP de Bolsonaro, herdeiro legítimo da velha Arena, integra a base de apoio do PT de Marta, autora em 1995 do projeto que legaliza a união homoafetiva.

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Mas nem tudo está perdido. As dissidências entre os poucos deputados ideológicos, como Rosinha e Lupion, têm muito a acrescentar ao país. Especialmente em uma década decisiva para o desenvolvimento brasileiro como a atual.

Há dilemas complexos pela frente. Será que o Estado vai conseguir melhorar sozinho a competitividade do Brasil ou vai precisar da ajuda da iniciativa privada? Vamos perseguir para sempre o bem-estar social ou vamos orientar as gerações futuras para a livre iniciativa?

Não existem respostas na ponta da língua. Encontrá-las (ou pelo menos persegui-las) ainda passa pelo bom e velho debate entre esquerda e direita.

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