Estive em Israel em janeiro e tive a oportunidade de aprender que o país desdobra sua política externa em duas frentes. Para o Ocidente, tenta demonstrar que é obrigado a viver miseravelmente em estado de alerta, perseguido pelos vizinhos. E para os vizinhos, mostra força militar, na linha do “se me agredirem, vão apanhar em dobro”.
Pois essa estratégia foi colocada à prova no ataque à flotilha turca de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Sim, era uma provocação descarada à Israel. E, sim, Israel caiu na pegadinha e reagiu de maneira desproporcional.
As dez mortes colocam o país em xeque. E terão um efeito colateral que os israelenses não desejavam, ou seja, vão ficar ainda mais raros os países que toleram o cerco feito à Gaza desde que o Hamas comanda a região. Ficou a seguinte imagem – Israel diz que precisa cercar terroristas que ameaçam o país, mas para defender essa posição age com terrorismo.
Mas não foi apenas o mundo que se posicionou contra o ataque à flotilha, a política interna israelense também está dividida. Agora é a chance de a esquerda recuperar fôlego e evitar mais bobagens da ala de Binyamin Netanyahu. E, principalmente, será a oportunidade de resolver de uma vez por todas o cerco à Gaza e a questão do Estado palestino.
Vale aí lembrar um posicionamento pessoal de Lula – se a ONU criou o Estado de Israel, agora é a vez da Palestina. O presidente pode até dizer uma porção de insensatezes pelo mundo afora… Mas essa não é uma delas.