Crédito: Wilson Dias / Agência Brasil| Foto:
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Desembarquei em Brasília como correspondente da Gazeta do Povo no dia 1º de abril de 2007. Dois meses após o dia da mentira, o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP) colocou para votar em plenário a reforma política.

Um relatório produzido pelo estridente Ronaldo Caiado (DEM-GO) selava uma inusitada parceria entre o antigo PFL e o PT para aprovar a mudança do sistema de votação para as listas fechadas, nas quais o eleitor vota apenas nos partidos nas eleições para deputado estadual, federal e vereador. Estava tudo amarradinho, até que em cima da hora os partidos alinhados aos petistas racharam. Foram 252 votos contrários às listas fechadas e 181 favoráveis

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Ontem, o todo-poderoso atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) usou tudo o que tinha à mão (e até o que não tinha) para mudar o sistema para um modelo bizarro chamado Distritão, adotado apenas no Afeganistão e Jordânia. Pela proposta, os mais votados ganham, independentemente das legendas. Perdeu por 267 a 210.

Cunha é o negociador mais hábil que apareceu no Congresso desde Ulysses Guimarães. Para prevalecer sua vontade, mudou o relator do texto de última hora, uniu partidos nanicos com promessas de apoio contra o fim das coligações e cláusula de barreira, pôs a lábia para funcionar na velocidade 5. Por que não adiantou?

Porque deputados agem essencialmente por instinto de sobrevivência. Não é nada fácil se eleger pelo modelo atual. É preciso fazer alianças estapafúrdias (coligar cristãos com comunistas é o de menos), comprar prefeitos com promessas de emendas, fingir para o cidadão que ele é capaz de resolver seus problemas – da falta de uma dentadura ao caixão para um velório.

Na hora de apertar o botão de votação para fazer reforma política, nenhum deputado quer saber o que pensa um cientista político que passou 40 anos estudando modelos do mundo inteiro. Ele move os dedos para afastar o perigo de ser carta fora do baralho nas próximas eleições.

Dessa vez, no entanto, é preciso dar um desconto. Mudar para o “distritão” não seria nocivo apenas para as excelências. Desta vez, mesmo que não tenha sido por altruísmo, eles livraram o país inteiro de um mal maior.

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