Publicado hoje na coluna Conexão Brasília, na Gazeta do Povo:
Nunca antes na história deste país um cabo eleitoral foi tão requisitado. Lula é o “cara” que quase todo candidato quer ao lado, seja para qual for o cargo. No Paraná não é diferente.
O presidente foi recebido sábado na Boca Maldita como um Midas. Pela cidade, caminhões de som anunciavam a presença do petista com o velho “olê-olê-olê-olá, Lulá, Lulá”. Tudo para grudar a imagem dele à de outro barbudo, Osmar Dias (PDT).
A estratégia, do ponto de vista da disputa eleitoral, está correta. Afinal, quem dispensaria um trunfo desses? Osmar terá pela frente uma campanha acirrada pelo Palácio Iguaçu, na qual o favorito até o momento é o ex-prefeito Beto Richa (PSDB).
Por isso Lula tornou-se ainda mais indispensável no cenário local. Friamente, porém, não é correto garantir que os votos dos simpatizantes do presidente vão desaguar automaticamente em Osmar. Eleições podem ser consideradas uma ciência, mas ela não é exata.
A maioria dos especialistas em pesquisas de intenção de voto concorda no poder de transferência de popularidade do presidente. O problema é que ele perde eficácia quando aplicado em esferas diferentes. Ou seja, Lula tem tudo para catapultar Dilma, mas a lógica não é tão simples para o caso de governadores e prefeitos.
Nas eleições municipais de 2008, por exemplo, não houve esforço presidencial que conseguisse fazer Marta Suplicy (PT) superar Gilberto Kassab (DEM), em São Paulo. Em Curitiba, Beto fez 77,27% dos votos válidos e impôs uma acachapante derrota a Gleisi Hoffmann (PT), que somou apenas 18,27%. O motivo dos fracassos: os critérios de decisão do eleitor não são tão simplórios quanto se imagina.
No livro “A cabeça do eleitor”, Alberto Carlos Almeida, um dos maiores especialistas sobre o tema no país, desenha uma tese matemática. A cada eleição para o Poder Executivo, o brasileiro faz um balanço da gestão anterior. Aqueles que encerram o mandato com mais de 60% de aprovação popular tornam-se quase imbatíveis, seja para a própria reeleição ou para indicar o sucessor.
Mas a regra só vale quando o apoio é de presidente para presidente, de governador para governador e de prefeito para prefeito. Em outras palavras, os cabos eleitorais mais úteis para Osmar seriam Requião e Pessuti. Desde 2003, ambos mantiveram os índices de aprovação do governo sempre acima de 60% – na semana passada, Pessuti ficou em 3º no ranking de avaliação dos governadores dos oito principais estados feito pelo Datafolha.
Os dados seriam animadores, entretanto, é justamente aí que entra o imponderável. Ao mesmo tempo em que pode ser beneficiado pelo apoio de Requião, Osmar também herda a rejeição do ex-governador. E em quase 30 anos de trajetória política Requião nunca conseguiu eleger um sucessor.
A estratégia é arriscada, assim como apostar todas as fichas em Lula. De acordo com a última pesquisa Datafolha* sobre a sucessão paranaense, 23% dos entrevistados disseram que com certeza votariam em um candidato a governador indicado por Lula. Por outro lado, 30% não votariam no nome apoiado pelo presidente, índice que sobe para 46% na capital.
O mesmo levantamento mostrou que 78% ainda não sabiam quem era o candidato de Lula – 16% disseram que era Osmar e 4%, Beto. Essa confusão com certeza começou a ser desfeita desde a visita do presidente ao Paraná no último fim de semana. Os impactos reais do apoio oficial, contudo, ainda são indecifráveis e só serão percebidos a partir das próximas pesquisas.
Até porque o eleitor paranaense não é dos mais fáceis de se entender. Para quem não lembra, é só levantar os números da eleição de 2006. Se dependesse apenas dos votos do Paraná, Geraldo Alckmin (PSDB) seria o atual presidente da República.
* A pesquisa Datafolha entrevistou 1.225 pessoas entre 20 e 23 de julho de 2010. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. Registro da pesquisa no TER-PR: 20158/2010.
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