Em maio de 2016, quando Lula depôs pela primeira vez ao juiz Sergio Moro em Curitiba, vários outdoors com uma ilustração do ex-presidente vestido como presidiário (o famoso Pixuleco) o esperavam na terra da Lava Jato. Em resposta, militantes lulistas resolveram fazer piada. Colaram corações em cima da mensagem com a seguinte frase: “Lula, ladrão, roubou meu coração”.
Não se sabe ao certo quando nem onde saiu a frase, entoada nos atos com o ex-presidente pelo Brasil afora como grito de guerra. Em abril de 2016, o humorista Gregório Duvivier já soltava o slogan em vídeo do Porta dos Fundos. Às vésperas do carnaval de 2017, o designer Gabriel Caymmi, neto do compositor Dorival Caymmi, lançou uma camiseta com a frase em estampa e a foto do ex-presidente.
Uma busca por vídeos no Youtube! revela outras pérolas. Uma publicação de fevereiro de 2017 no canal do deputado federal Ênio Verri, presidente do PT no Paraná, usa uma música com sirenes e um refrão que fala que “que quero ver você lá na prisão por roubar meu coração”. No título do post, porém, não há a palavra “ladrão”.
Outro vídeo, de agosto de 2017 (mas que não contém a descrição do local onde foi feita), mostra um Lula encabulado diante de militantes vestidos de vermelho que entoam o bordão:
Não parou por aí. Na quarta-feira, a Bloomberg noticiou a presença do cartaz com a citação em um evento da recente caravana do ex-presidente por Minas Gerais. O título da matéria: Lula rouba corações, lidera pesquisas e segue em campanha.
Uma busca no Google Imagens também traz fotos de bótons, adesivos, camisetas, faixas e bandeiras com a frase. E, nas redes sociais, cada vez que ela aparece desperta um turbilhão de reações e, quase invariavelmente, o contraponto: “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”.
No atual momento de radicalismo, fica a pergunta: usar uma piada com “ladrão” tem realmente graça ou só reforça a ideia do desespero contra os processos contra Lula? Talvez um pouco dos dois.
No fundo, é mais um sinal do beco sem saída em que a política brasileira vai se enfiando. Um debate dessa importância com pouca cabeça e muito coração (ou, no caso, fígado) invariavelmente acaba mal.