Reza a cartilha do marketing político que candidato a vice não dá voto. Mas tira. Em outras palavras, o potencial de atrapalhar a chapa é sempre maior que o de ajudar. Além disso, não adianta acreditar na ideia de que escalar um astro como coadjuvante vai superar o problema de ter um protagonista sem carisma.
Em 2012, a escolha de vices para as disputas municipais tem ganhado uma dimensão política fora do comum. Em São Paulo, Luiza Erundina (PSB) colocou fogo na esdrúxula aliança entre Lula e Paulo Maluf ao se recusar a ser vice de Fernando Haddad (PT). A substituta, Nádia Campeão (PCdoB), acabou selecionada pelo potencial de não gerar novas encrencas.
Em Curitiba, Luciano Ducci (PSB) e Rubens Bueno (PPS) selaram ontem um casamento de novela, com direito a polêmicas familiares e muita gente levantando a mão na igreja dizendo que é contra a união. No fim, parece que tudo deu certo. Só não se sabe até onde vai o “felizes para sempre”.
Esperneios à parte, Bueno é um político de trajetória interessantíssima. Sem estrutura partidária e recursos, fez campanhas honrosas para governador do Paraná (2002 e 2006) e prefeito de Curitiba (2004). Como deputado federal, tornou-se um dos raros nomes de destaque da oposição em Brasília.
Pesando os currículos, Bueno tem mais densidade política que Ducci. Por que então aceitaria ser vice-prefeito? No fundo, porque é um outsider dos grupos que comandam a política no estado e, aos 64 anos, percebeu que embarcar de vez no grupo de Beto Richa seria uma das últimas chances de chegar a um cargo relevante no Executivo.
E Ducci, o que ganha com a escolha? A curto prazo, muito. Acossado pelas denúncias sobre seu aumento de patrimônio feitas pela revista Veja, o prefeito agrega um nome que sempre fez campanhas pautadas pelo “voto limpo”.
Além disso, Bueno tem apelo entre a mesma faixa eleitoral do principal adversário de Ducci, Gustavo Fruet (PDT). Os dois, por sinal, construíram carreiras parlamentares bem similares em Brasília. A diferença é que Fruet, depois de deixar o Congresso, trocou o PSDB por um partido governista.
A opção de Ducci também serve para anular a estridente vereadora Renata Bueno (PPS), filha de Rubens. Somando mais esse aspecto, parece tudo perfeito. Mas escolhas “sob medida”, pautadas apenas na ideia de que vão atrair votos, nem sempre têm o caimento ideal.
Tem até filme sobre isso. Lançado há pouco mais de um mês no Brasil, “Game Change” mostra como foi conduzida a seleção de Sarah Palin como candidata a vice do republicano John McCain na disputa pela presidência dos Estados Unidos em 2008. Governadora do Alasca, Sarah foi uma medonha invenção dos assessores de campanha de McCain para tentar equilibrar a disputa contra Barack Obama.
Há, por último, um efeito colateral implícito na escolha do vice – o que fazer com ele depois de eleito. O esquerdista Fernando Lugo escolheu o conservador Federico Franco como parceiro para a presidência do Paraguai. E Franco, depois, ajudou na rasteira do impeachment que Lugo levou do Congresso.
Por isso a conta do vice não se resume a uma só variável. Entre tantas possibilidades, fica a dica que vale tanto para políticos quanto eleitores: vice pode até não mandar nada. Mas um dia você pode precisar dele.
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