Jair Bolsonaro (PSC-RJ) acaba de divulgar um “Comunicado aos cidadãos do Brasil”, em que fala esparsamente sobre o time de consultores que tem ajudado na sua pré-campanha presidencial. O texto de oito parágrafos chegou a ser comparado à “Carta ao povo brasileiro” de Lula, documento feito para tranquilizar o mercado às vésperas da eleição de 2002 e considerado como um dos pilares da primeira vitória petista. De esclarecedor, há três trechos relevantes na nota sobre a equipe bolsonarista:
1) Contrariedade com “ideias heterodoxas” na economia;
2) Desapreço por regimes totalitários;
3) Respeito aos contratos, às leis e “TOTAL” (assim mesmo, em caixa alta) respeito à Constituição Brasileira.
Em uma situação política minimamente perto do normal, não seria necessário que um presidenciável competitivo precisasse vir a público para garantir esses três pontos. Bolsonaro, contudo, cresce justamente por sua excepcionalidade – é só lembrar da antológica entrevista à TV Bandeirantes, em 1999 (quando já era deputado), na qual sugeriu declarar guerra civil, sonegar impostos e garantiu que, se eleito presidente, fecharia o Congresso Nacional.
O que chama mais atenção na carta, contudo, é que Bolsonaro manteve o mistério sobre, afinal, qual é o time que tem ajudado na formulação de suas propostas. O texto pede “paciência aos cidadãos” e dá somente pistas genéricas sobre o perfil do grupo.
“Podemos antecipar que já contamos com um sólido grupo, composto por professores de algumas das melhores universidades do Brasil e da Europa. Indivíduos que são referência na academia, com vários papers publicados em revistas ranqueadas, com larga experiência profissional e sem máculas em seus respectivos históricos”, diz o comunicado.
Vale destacar que o material só foi para o papel porque os jornais correram atrás do primeiro guru econômico de Bolsonaro que deu as caras: o economista do Ipea Adolfo Sachsida. O comunicado confirma as conversas com o “talentoso economista”, mas trabalha com o objetivo de não restringir a visão econômica de Bolsonaro ao que pensa o liberal Sachsida.
Aí voltamos à questão central: por que tanto mistério sobre os nomes do “sólido grupo” e, principalmente, sobre o que ele efetivamente propõe para a economia? Bolsonaro dedicou a maior parte de sua carreira militar para questões corporativas do Exército (era um “sindicalista militar”) e, depois, migrou para temas de defesa da moral e costumes. Duas frentes de ação que o mantiveram praticamente virgem nos grandes debates econômicos.
Vendo o copo meio vazio, essa pureza pode ser encarada como total despreparo para exercer o cargo de presidente. Vendo o copo meio cheio, Bolsonaro é um livro em branco, que não se comprometeu com nada, e que pode ser preenchido ao longo da campanha com as teses que forem mais competitivas eleitoralmente.
O interesse pela equipe de Bolsonaro cresce, assim como ele avança nas pesquisas, porque ele próprio alimenta o valor desse mistério. Quando fala que não precisa ser médico para entender de saúde, mas sim indicar um bom nome para o ministério da área, vai protelando a entrada em uma arena difícil. Não é um comportamento exclusivo: vale lembrar a enrolação de Dilma Rousseff e Aécio Neves para apresentar planos de governo em 2014.
O sucesso de Bolsonaro depende, neste momento, de conseguir fiadores para temas complexos que comprovem a história de que ele está mesmo cercado de grandes nomes da economia. Ele, sozinho, não vai ganhar a eleição. Uma equipe competitiva vai pesar mais, no pega para capar, do que ser apenas um anti-Lula.