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O caos do governo Temer é relevante, o despedaçamento moral do PSDB também, mas nada pesa mais para o futuro político do Brasil que a situação do ex-presidente Lula. A partir desta quarta-feira (21/6), o juiz Sergio Moro está apto a dar a sentença do caso tríplex. Em caso de condenação, abre caminho para o processo tornar o petista ficha suja e tirá-lo da eleição de 2018.

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A trama Moro x Lula, contudo, vai muito mais fundo no pantanoso estado de espírito da nação que o simples fato jurídico da condenação/absolvição do ex-presidente. Chegamos a um cenário cinzento em que é mais decisivo decifrar o que as pessoas vão entender da sentença do que ela em si. A pedido da Gazeta do Povo, o Paraná Pesquisas consultou 3.962 eleitores acima de 16 anos e fez duas perguntas, via questionário on-line:

1 – Moro condenará ou absolverá Lula no caso tríplex?

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2 – Moro persegue Lula?

Na primeira questão, 71,4% disseram que sim, 24,2% que não e 4,4% não souberam responder. Na segunda, 61,1% responderam que não, 35,9% que sim e 3% não souberam responder. É digno de nota, em primeiro lugar, os pouquíssimos “indecisos” – em ambas as questões, mais de 95% têm opinião formada (e, tecnicamente, não deveria ser tão fácil opinar sobre isso).

Em segundo lugar, a existência de uma maioria cristalizada que acredita na condenação. O que não quer dizer, obrigatoriamente, que essa maioria é favorável à condenação, como fica claro no terceiro ponto a ser analisado (e mais sensível do levantamento). Se 35,9% dos entrevistados entendem que Moro persegue Lula, os fiéis seguidores do ex-presidente podem ser ainda mais fervorosos do que se imagina.

Esse público é mais amplo que o próprio eleitorado do petista, segundo outra sondagem do Paraná Pesquisas. Levantamento de intenção de voto para presidente divulgada no dia 31 de maio mostrou Lula com 25,8%, seguido por Bolsonaro (16,1%), João Doria (12,1%), Marina Silva (11,1%), Joaquim Barbosa (8,1%), Ciro Gomes (4,3%), Ronaldo Caiado (1,6%) e Luciana Genro (1,5%). 14,6% votariam nulo ou branco, e 4,8% estavam indecisos.

Sempre funcionou assim no marketing político, mas tornou-se mais forte na era da pós-verdade: não importa como a história realmente foi, mas a maneira como ela é contada. Reside aí a famosa estratégia de controle da narrativa* política. O impeachment de Dilma ocorreu estritamente dentro da Constituição, mas, com esmero, Lula vai costurando os retalhos de uma linda história em que ele (o povo) vem sendo vítima de uma perseguição deles (as elites opressoras).

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Tirando a emoção de lado, é cada vez mais concreto o avanço da teoria de que Lula pode ser até culpado, mas isso é irrelevante diante de uma implacável perseguição política. Aconteceu coisa similar, por exemplo, no julgamento de OJ Simpson, nos Estados Unidos (vale ver a série da Netflix sobre o episódio para se dar conta das semelhanças). Lula é um excepcional contador de histórias e, muito além disso, a crise política generalizada criou um público bem mais propenso a ouvi-las.

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*Tem dúvidas sobre a tal da construção da narrativa? Dá uma olhada neste vídeo compartilhado no Facebook pela presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann: