Pode ter sido da forma mais destrambelhada possível, mas Cabo Daciolo (Patriota) conseguiu uma proeza no primeiro debate presidencial. Ao fazer menção ao mirabolante Plano Ursal, que criaria a União das Repúblicas Socialistas da América Latina, tirou da gaveta a discussão eleitoral sobre relações exteriores. Desde a madrugada de sexta-feira (10), muito em função do gosto pela piada, o país ganhou milhões de entendidos em política internacional.
LEIA MAIS: Esquerda perde a 5ª seguida na América do Sul. O que essa goleada diz sobre o Brasil
Aos desavisados, um alerta: há sim uma novidade a pleno vapor nas relações entre países da América Latina, muito além das conversas sobre bolivarianismo, Foro de São Paulo e, vá lá, Ursal. Criado em agosto de 2017 para tratar da crise na Venezuela, o Grupo de Lima (também chamado apenas pela sigla GL) reúne 10 nações da região, com governos majoritariamente de centro-direita: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai e Peru.
Originalmente, o time também contava com o forasteiro Canadá e o México, que acaba de virar para a esquerda, após a eleição de Andrés Manuel López Obrador. É um movimento sólido que, grosseiramente, pode ser definido como uma espécie de ‘Ursal da direita’. Com duas diferenças lógicas: 1) Obviamente não quer criar um novo país, 2) Não tem nada de teoria da conspiração e já está em prática.
LEIA MAIS: O que é a Ursal? Ela existe de verdade?
A cara dessa guinada é o ministro das Relações Exteriores do Chile, Roberto Ampuero. Militante de esquerda nos anos 1970, exilou-se na Alemanha Oriental e em Cuba para fugir dos anos de chumbo do general Augusto Pinochet. Desiludiu-se com a concertación chilena e há nove anos virou apoiador e conselheiro do atual presidente direitista Sebastián Piñera.
Ampuero é um personagem sofisticado, antropólogo, jornalista e escritor de sucesso. Tem sido o porta-voz de uma estratégia que passa politicamente pelo GL, mas cuja cereja do bolo é a aproximação econômica entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico. E é aí que o Chile entra como ponte entre os países latinos e as economias asiáticas.
Em entrevista recente à Folha de S. Paulo, Ampuero citou que tanto Brasil quanto Argentina pediram ao Chile para mediar o livre-comércio com a Ásia. É uma forma de tentar superar a burocracia do Mercosul e a subutilização de organizações com fortes laços com o período áureo da esquerda na América Latina, como a Unasul (União das Nações Sul-Americanas).
O GL e as parcerias econômicas alinhadas a ele vão para frente? Como tudo na região, depende de uma forcinha do Brasil. Difícil é saber se o Brasil vai tratar de um assunto sério como esse ou se vai continuar preferindo dedicar seus debates à Ursal e outras teorias da conspiração.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF