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Há dois meses, o Brasil vencia o México em Fortaleza por 2 a 0 e chegava à semifinal da Copa das Confederações. Do lado de fora do Castelão, 80 mil pessoas protestavam, entre outras coisas, contra os gastos públicos com a construção de estádios. Em São Paulo e no Rio, as prefeituras anunciavam a redução de R$ 0,20 na tarifa de ônibus.

Um dia depois, a passagem diminuiu R$ 0,15 em Curitiba e a cidade enfrentou a maior manifestação de todas, que acabou em quebra-quebra no Centro Cívico e nos arredores da Arena da Baixada. A “proteção” do estádio foi feita pela torcida organizada do Atlético. “Nós somos o policiamento”, disse na época um dos membros do grupo à Gazeta do Povo.

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Sessenta dias se passaram e a situação se amornou. Já não se vê nas ruas os cartazes exigindo educação e saúde “padrão Fifa”, nem se ouve músicas comparando salários de professores ao do Neymar. Mas falar em despesas públicas com Copa do Mundo continua sendo um assunto delicado.

Hoje o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, visita a capital paranaense para a última inspeção sobre o andamento das obras na cidade. Segundo o último balanço, do dia 10 de julho, a Arena estava 71,43% concluída. No mesmo mês, o presidente do Atlético, Mário Celso Petraglia, anunciou que o preço final da construção havia subido 31%, de R$ 184 milhões para R$ 265 milhões.

Valcke, obviamente, vai querer saber quem vai pagar a diferença – clube, prefeitura ou governo do estado, os três parceiros da obra. Pelo que informou na semana passada o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, o Atlético tem “responsabilidade maior”. Porém, as “garantias” seriam dadas “em parte” pelas gestões municipal e estadual.

A questão é que ninguém sabe exatamente qual será o tamanho dessa “responsabilidade”, nem das tais “garantias”. Um dos maiores artífices do acordo para tornar Curitiba uma das subsedes da Copa, o ex-prefeito e atual governador Beto Richa (PSDB) declarou na semana passada que o estado não vai colocar “nem um centavo a mais” na obra. O secretário municipal da Copa, Reginaldo Cordeiro, disse que a prefeitura não tem “vontade” de aumentar sua participação.

Já o Atlético estaria esperando por um parceiro comercial, que assumiria o naming rights da Arena, para bancar os R$ 81 milhões (valor que ainda pode ser alterado). A diferença é que o clube é um ente privado. E que não disputa eleição em 2014.

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Em paralelo à negociação, há um mal estar evidente na Fifa após os protestos da Copa das Confederações. Não seria de se estranhar um endurecimento da entidade no trato com as subsedes. Chutes no traseiro, como já disse Valcke.

A essa altura do campeonato, fica difícil imaginar que deixar de receber o Mundial é um bom negócio (nem parece algo dentro de cogitação). Afinal, a Arena está quase pronta. Por outro lado, também é uma aposta de risco peitar a situação e colocar mais dinheiro público na obra.

De um jeito ou de outro, será interessante ver como os políticos vão sair de uma encruzilhada em que eles mesmos se meteram. Ninguém forçou a prefeitura e o governo do estado a virar parceiros de um clube de futebol. Quem pensava só em bônus, agora tem de demonstrar como lidar com o ônus.

Talvez em julho de 2014 a euforia pela festa seja tão grande que os protestos de 2013 vão parecer algo perdido no passado. Ou talvez o gigante esteja apenas tirando um cochilo para acordar ainda mais irritado do que há dois meses.