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Nossos senadores não se amam. Precisam?

Wenderson Araújo
Requião, Gleisi, Alvaro: confusão, mas sem omissão.

No Senado, não tem jeito: representantes do mesmo estado são obrigados a sentar-se um do ladinho do outro. A organização gera situações curiosas, já que na maioria das vezes os conterrâneos são ferrenhos adversários eleitorais. Tem até ex-casal (os petistas Eduardo e Marta Suplicy, de São Paulo) que precisa se tolerar.

No caso paranaense, a ordem de distribuição das poltronas, da esquerda para a direita, tem Alvaro Dias (PSDB), Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB). O ambiente dessa área é quase sempre um dos mais tensos do plenário. Ainda mais porque os três adoram discursar e não fogem de uma discussão.

Em campos políticos diametralmente opostos, Alvaro e Gleisi têm se digladiado sempre. Como líder do PSDB, o tucano é o oposicionista que mais usa a tribuna. Já a petista foi escalada para atuar como sentinela do governo em qualquer debate espinhoso que aparecer pela frente.

Na última quinta-feira, o clima esquentou para valer. Em tom de denúncia, Alvaro citou declarações feitas pela presidente Dilma Rousseff em Portugal, na qual teria confidenciado que enfrenta “um problema sério de maioria” no Parlamento, o que força negociações “caso a caso”.

Automaticamente, ligou o caso ao escândalo de compra de votos do mensalão, palavra que perfura o tímpano de qualquer petista.
Gleisi reagiu de imediato. Disse que Alvaro precisava apresentar provas das supostas irregularidades que insinuava. Falou em leviandade e disse que o diálogo entre Planalto e Congresso faz parte do jogo democrático.

A petista, aliás, cutucou de forma indireta os vizinhos logo no primeiro dia de trabalho como senadora. Os três primeiros projetos apresentados por ela cortam benefícios de senadores. O primeiro impede a posse de suplentes de senadores durante o recesso e o segundo acaba com os dois salários extras (R$ 26,7 mil cada) recebidos por ano a título de ajuda de custo.

O último propõe a regulamentação do teto salarial do funcionalismo, o que impediria que congressistas recebessem benefícios que extrapolassem os R$ 26,7 mil que já recebem de salários. Isso atingiria, por exemplo, parlamentares que acumulam aposentadorias como ex-governadores. Na época, era o caso de Alvaro e Requião (depois eles tiveram a pensão suspensa pelo governo do estado).

O peemedebista fez troça das sugestões. Disse que iria apresentar uma proposta “adaptando” o expediente na Casa para permitir que os senadores possam trabalhar como garçons para complementar a renda. Aliado circunstancial de Gleisi durante a campanha, ele também não esconde a antipatia pelo marido dela, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Fora do plenário, Requião e Alvaro ainda são obrigados a conviver como membros da Comissão de Educação. No dia em que Requião foi eleito presidente do órgão, Alvaro fez questão de apoiá-lo. Mas fez a ressalva: “desta vez”.

Nada do que tem acontecido é uma surpresa para os paranaenses. Nenhum dos senadores do estado foi eleito prometendo o contrário do que está fazendo. Todos sabiam que o trio não se adorava, nem passaria a se adorar de uma hora para outra.

É necessário ressaltar que as trombadas ocorrem muito em função do engajamento e da assiduidade dos três como senadores. Confusão, no fundo, ainda é muito melhor do que omissão. E é bom se acostumar, porque ainda virão muitos confrontos pela frente.

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