O tempo passa, o tempo voa, e tanto Lula quanto Dilma Rousseff continuam bem longe do segundo turno em Curitiba. Do lado tucano, Beto Richa e as figuras mais destacadas do partido, como Aécio Neves, também permanecem distantes. Por essas e outras, a disputa entre Gustavo Fruet (PDT) e Ratinho Júnior (PSC) entra na reta final desnacionalizada.
Qualquer que seja o resultado do próximo domingo, o vencedor sairá por méritos da própria imagem, avaliada a partir de valores pessoais dos curitibanos. Os dois adversários fazem uma campanha que passa por cima da política partidária. OK, Fruet está coligado aos petistas liderados pela ministra Gleisi Hoffmann e Ratinho Júnior tem o apoio da ala peemedebista de Roberto Requião – mas isso tem gerado mais polêmica do que certeza de votos.
Hoje é difícil cravar que o resultado terá impacto decisivo na eleição de 2014, seja para governador ou presidente. O desgaste eleitoral de Richa (que não foi pequeno) ficou no primeiro turno, com a derrota do apadrinhado Luciano Ducci (PSB). Mas será que alguém vai se lembrar disso daqui a dois anos?
Depende de como o prefeito eleito vai se comportar. Nenhum dos dois candidatos dá mostras de que vai comprar briga com o governador, muito menos com a presidente. O futuro peso eleitoral só poderá ser medido a partir de demonstrações (ou não) de competência administrativa.
A parte interessante do atual cenário é que o eleitor curitibano resistiu ao aculturamento eleitoral. Não engoliu o candidato empurrado pelo governador, assim como também não embarcou no leilão feito entre Fruet, Ratinho e Ducci pela imagem de Dilma. O que é de casa vai se decidindo em casa.
O aspecto ruim fica por conta do desperdício da oportunidade de debater mais a fundo os problemas locais. No primeiro turno, Ratinho até posou como o candidato das novas ideias, o sujeito prático que entende aquilo que o eleitor quer. Desde a virada para o segundo turno, no entanto, está tão inebriado pela perda do favoritismo que parece só se importar com a vitória a qualquer custo.
Na outra trincheira, Fruet está na defensiva. Desde a semana passada, quando o Datafolha* mostrou o pedetista na frente das intenções de voto pela primeira vez, ele tem se dedicado mais a se esquivar das pedradas do adversário do que detalhar seus planos para a cidade. Ligou o piloto automático.
O travamento do debate é uma infelicidade para Curitiba. O recado dado pelas urnas no último dia 7, com a rejeição à reeleição de Ducci, deixou claro que os eleitores querem mudanças. Mas, entre a fumaça do bombardeio de ataques pessoais, fica difícil prever o que vem pela frente – e de que forma será conduzida a renovação administrativa da cidade (se é que ela vai existir).
Ratinho é de um partido nanico sem quadros suficientes para todas as áreas. O PDT de Fruet também está longe de ser uma potência política ou técnica. Ambos garantem que não vão lotear a prefeitura entre partidos, mas também não explicaram como vão preencher os postos mais estratégicos.
Em tese, ainda há tempo para esclarecer (ao menos em parte) essas questões. Resta saber se há vontade.
*Metodologia
A pesquisa Datafolha ouviu 1.267 pessoas entre 17 e 18 de outubro. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos. O registro no Tribunal Regional Eleitoral tem o número 679/2012. A pesquisa foi encomendada pela RPC TV e pela Folha de S. Paulo.
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