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O Facebook não quer eleger o presidente do Brasil. Quem ganha com isso?

Jair Bolsonaro, o pré-candidato com mais alcance no Facebook, posa com o "Batman" em Curitiba. Crédito da foto: Marcelo Andrade (Foto: )

Se o caderninho de prioridades de Mark Zuckerberg cair nas suas mãos, você não encontrará nele o desejo de eleger o próximo presidente brasileiro. “Há uma grande eleição no Brasil. Pode apostar que estamos muito comprometidos em fazer tudo o que pudermos para garantir a integridade dessas eleições no Facebook”, disse ele à CNN em 21 de março. O gancho da entrevista, contudo, era outro: um mea culpa pelo escândalo da Cambridge Analytica, envolvendo dados vazados de mais de 50 milhões de usuários, o que teria influenciado a favor da eleição de Donald Trump, em 2016.

O Facebook, afinal, elegeu Trump? Olha, esse é um assunto tão complexo, sujeito a números e paixões, que só vamos ter uma resposta definitiva (se tivermos) daqui a uns 150 anos. O que é possível diagnosticar é que, com as turbinas do Facebook desligadas ou a meia bomba, várias candidaturas brasileiras podem engasgar.

Quando Zuckerberg falou lá atrás em “integridade das eleições” (e nesta terça-feira, 23, ele voltou ao tema ao pedir desculpas no Parlamento Europeu e falar em endurecer regras para evitar deslizes nas eleições), o que mais provavelmente indicou é que a rede social que ele fundou deve tirar o poder de alcance do discurso político mais exacerbado (à esquerda e à direita). Isso se dá de várias formas, incluindo o combate às fake news e às mudanças recentes nos algoritmos que privilegiam publicações relacionadas a amigos e família.

Leões de Facebook, como Jair Bolsonaro (PSL), certamente serão impactados. O mais recente relatório do Burgos Media Watch, estudo feito pelo jornalista Pedro Burgos que mede a influência de páginas com conteúdo político, aponta Bolsonaro como o presidenciável com maior influência no Facebook. Entre 13 e 20 de maio, por exemplo, ele publicou apenas 21 conteúdos e teve 167.587 compartilhamentos.

Já Lula “escreveu” (entre aspas porque, como se sabe, ele está preso e sem acesso à internet) 44 posts e teve 122.149 compartilhamentos. Na comparação por espectro ideológico, páginas de direita tiveram quase o triplo de compartilhamentos em relação às de esquerda – 1,2 milhão contra 400 mil. Juntando páginas de esquerda moderada e direita moderada, no entanto, a situação muda de figura e a influência fica mais equilibrada.

Se o Facebook cumprir a promessa de tirar o time da eleição brasileira, esforços para ganhar corpo nas redes sociais de nanicos à esquerda – Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL) – e à direita – João Amoêdo (Novo) e Flávio Rocha (PRB) – também estarão comprometidos. O que nos joga de volta à política tradicional.

E se for para apostar, cada dedinho de alcance que Zuckerberg tira da política aumenta significativamente o peso das armas políticas de sempre, como o horário eleitoral e a “capilaridade” dos grandes partidos. Não é uma questão de bem ou mal, só uma constatação: com esse andar da carruagem, alianças políticas terão mais importância do que curtidas para definir quem vai nos governar a partir de 2019.

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