Dilma Rousseff aproveitou a primeira reunião do ano com o conselho político, na semana passada, para mandar um recado a todos os aliados: só vai participar das campanhas municipais em que não houver concorrência entre candidatos da base. Alguns pensam que o estrago não será grande, afinal a presidente não teria o traquejo de Lula para pedir votos. Mas em alguns lugares, como Curitiba, ela vai fazer falta.
Segundo o diretor do instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, Dilma conseguiu igualar nos últimos dias o nível de popularidade do governador Beto Richa (PSDB) na capital. Só perde no critério de desempate. “A diferença é que Beto está muito mais próximo da população, é só sair de casa para apertar a mão dos eleitores”, diz Hidalgo.
A proeza da presidente é ter conseguido furar o bloqueio antipetista entre a classe média/alta curitibana. As mesmas pessoas que detestavam o discurso popular de Lula, agora aprovam a faxina de Dilma. A sensação é de que a figura dela descolou-se do PT e virou um patrimônio político individual, algo parecido com o que acontece com Lula entre a classe C.
Em Curitiba, há três candidatos de legendas alinhadas ao governo federal: Gustavo Fruet (PDT), Rafael Greca (PMDB) e Ratinho Jr. (PSC). Sem contar nos esforços de Tadeu Veneri e Dr. Rosinha para vetar o apoio do PT a Fruet e convencer o partido a lançar nome próprio. Ainda há a estranha situação do prefeito Luciano Ducci, que é do PSB, sigla que tem até ministério em Brasília, mas que no Paraná é totalmente pró-PSDB.
Com um balaio tão grande e sortido de candidatos “aliados”, parece natural que Dilma não se meta na cidade. Aliás, não há nem sinal de que ela esteja sendo procurada. A briga ainda é pelo apoio do PT e desconsidera a força da presidente como “pessoa física”.
A questão é que os pontos fortes de Dilma cairiam como uma luva especialmente na campanha de Fruet. Ex-tucano, ele tem dificuldades de explicar uma aliança com os petistas. Mas aliar-se à Dilma é outra coisa.
Como deputado federal, Fruet foi sub-relator da CPI dos Correios, que investigou o mensalão durante o governo Lula. O trabalho levou à queda do então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Graças ao episódio, Dilma ascendeu ao posto de gerente do governo e o resto da história todo mundo sabe.
Graças ao trabalho na comissão e ao discurso ético, Fruet foi o deputado federal mais votado do Paraná em 2006. Dilma se encaixou mais ou menos no mesmo perfil após a demissão de sete ministros envolvidos em denúncias de corrupção. Aliás, está nessa lista o presidente do PDT, Carlos Lupi.
Pelo andar da carruagem, no entanto, o mais provável é que Dilma só entre no jogo se houver segundo turno – e se ele não for disputado entre dois candidatos da base. E voltando ao estranho caso do PSB de Ducci, existe ainda a chance de a direção nacional do partido (via o governador de Pernambuco, Eduardo Campos) conseguir neutralizar a participação da presidente em Curitiba.
Entre tantas possibilidades, chama a atenção a volta por cima de Dilma entre os curitibanos. Quem diria que, há pouco mais de um ano, José Serra (PSDB) fez quase o dobro dos votos dela na cidade no segundo turno da eleição presidencial.
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