Publicado na edição impressa de hoje da Gazeta do Povo:
Há quem ache esdrúxula a aproximação de Osmar Dias (PDT) ao PT. Dizem até que a única semelhança entre ele e um petista é a barba. Algumas confidências recentes do senador, entretanto, mostram que a sintonia tem sim motivos para existir e que isso não é de hoje.
Os primeiros detalhes esquecidos dessa relação são de 2001. Na época, Osmar estava no PSDB e enfrentava um processo de expulsão do partido. Tudo porque assinou o requerimento de criação da CPI da Corrupção proposta pelo PT.
Antes que fosse forçado a se retirar, pediu para sair. E no curto período que ficou sem partido foi procurado para se filiar no PT. Diz que ficou bastante balançado, mas acabou embarcando no minguante PDT, braço-direito de Lula nas eleições de 2002.
Vieram as eleições de 2006. Na noite em que foi decidido o primeiro turno, recebeu a visita do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e da esposa, Gleisi Hoffmann, que havia acabado de perder a eleição para o Senado.
O casal pediu que Osmar apoiasse Lula contra o tucano Geraldo Alckmin no restante da campanha presidencial (antes ele foi obrigado a ficar com o candidato pedetista Cristovam Buarque). Mais uma vez ele balançou. E quando estava bem mais para o lado petista, foi puxado para a direita pelo seu coordenador de campanha, Euclides Scalco.
Fundador do PSDB, Scalco fez um apelo pessoal para que Osmar se decidisse por Alckmin. Não havia como negar. Só que, ao contrário do que se imaginava na época, a relação com os petistas foi ficando cada vez mais próxima.
Em 2007, o senador foi cotado para assumir o Ministério da Agricultura. No ano passado, passou a ser convidado a participar com frequência de audiências no Palácio do Planalto. Nas vésperas das eleições municipais, um novo assédio, dessa vez para apoiar Gleisi em Curitiba.
Pela terceira vez, Osmar disse não.
Afinal, tinha de pagar a dívida contraída
com Beto Richa em 2006. Em 2009, surge o assédio para que ele assuma a liderança do governo no Congresso Nacional no lugar de Roseana Sarney (PMDB), que deve assumir o governo do Maranhão.
Ao longo desses oito anos de affair, as negativas têm sido cada vez menos enfáticas, o que ajuda a diminuir alguns mitos. O maior deles é que Osmar seria incompatível com o PT porque é latifundiário e ruralista. Como Roberto Requião faz questão de frisar, o pedetista tem mesmo um “fazendão” no Tocantins, mas nunca integrou a temida bancada ruralista no Congresso.
Entre os petistas, até o principal nome de defesa da agricultura familiar, o deputado federal Assis do Couto, aprova a aliança com Osmar. O senador também teria poucas resistências na corrente Democracia Socialista, que reúne os filiados que se posicionam mais à esquerda e que historicamente são aliados do PMDB de Requião no estado.
Fica cada vez mais difícil para Osmar reiterar um não ao PT se quiser ter chances de vencer a disputa para governador em 2010. É que, do outro lado, sobram cada vez menos motivos para dizer sim ao PSDB, firme na candidatura de Beto Richa. Com o fim das desculpas, falta apenas abraçar a estrela vermelha. Até porque a barba Osmar já tem.